Energia limpa.  Foto: Vecstock/Freepik
Energia limpa. Foto: Vecstock/Freepik

Sobreoferta de energia onera consumidor e hidrogênio verde pode ser solução

Substância emite menos gases poluentes que os combustíveis fósseis e possui capacidade de armazenamento

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O Brasil  enfrenta uma sobreoferta de energia elétrica, o que tem onerado os consumidores do mercado cativo. O alerta é do diretor-executivo do Conselho Mundial de Energia e professor da PUC-MG, Nelson Fonseca — e foi feito durante o workshop “Principais desafios para o novo modelo do setor elétrico”. O evento foi realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), no último dia 26. Segundo ele, o cenário é resultado da sobrecontratação involuntária de energia feita pelas distribuidoras, como forma de garantir o abastecimento do país. 

O modelo institucional vigente do setor elétrico obriga as distribuidoras a comprarem energia para atender o mercado atual e futuro, com 5 anos de antecedência, por meio de leilões regulados pelo governo. No entanto, elas não têm como estimar quantos consumidores vão migrar para o mercado livre ou para a geração distribuída (geração própria) ao longo dos anos. 

“Com a migração de clientes para o mercado livre e a expansão exponencial da GD [geração distribuída] nos últimos anos, a carga das distribuidoras diminuiu. Então as distribuidoras ficaram com sobras de contrato de energia, [porque] elas compraram energia em contratos de longo prazo. A energia sobrando vai ter que ser liquidada no mercado de curto prazo e nesse mercado de curto prazo, como tem sobra de energia, o preço está muito baixo, está R$ 69 o megawatt-hora.”

O professor Nelson Fonseca explica que, pela lógica, a distribuidora poderia quebrar, já que comprou a energia por R$ 200 o megawatt-hora no contrato e tem que vender por R$ 69, devido à desvalorização pela diminuição da demanda. No entanto, “o modelo prevê que quando a sobrecontratação é involuntária, a distribuidora pode repassar [o prejuízo] para as tarifas. Então isso vai implicar em aumento da tarifa dos consumidores cativos na próxima revisão tarifária. Então, na medida em que diminuem os consumidores cativos, fica cada vez menor o número de pessoas para poder pagar essa conta”.

Portanto, mesmo com sobreoferta de energia, os encargos na tarifa aumentam o preço da conta de energia  para o consumidor final.

Hidrogênio verde como solução

Uma das soluções propostas pelo professor Nelson Fonseca durante o workshop é usar o excedente de energia na produção de hidrogênio verde.

“Nós temos que ter um mecanismo para absorver esse excesso de geração. Porque não adianta ter um excesso de geração e a usina hidrelétrica, que está com o reservatório cheio, verter água no reservatório. Ou seja, é uma oportunidade de negócio — inclusive, a produção de hidrogênio verde, que é uma forma de armazenar.”

O professor do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Juliano Bonacin explica que o hidrogênio verde é um material obtido a partir da eletrólise da água, ou seja, a decomposição dessa substância por meio de uma corrente elétrica. No caso do hidrogênio verde, a energia usada provém de fontes renováveis, como solar e eólica, por exemplo.

Atualmente, 95% do hidrogênio usado como fonte de energia é produzido a partir de combustíveis fósseis, o que gera o gás poluente CO² em maior quantidade. Por isso, o diferencial do hidrogênio verde é a redução do impacto no meio ambiente. “Ele tem uma baixa emissão de CO². Não dá pra dizer que a gente tem um processo totalmente isento, sem emissão de CO², porque para produção do hidrogênio verde é preciso de eletrolisadores. Mas a emissão de CO² de hidrogênio verde é muito pequena.”

Para o diretor-executivo do Conselho Mundial de Energia, Nelson Fonseca, a energia resultante da sobrecontratação involuntária das distribuidoras poderia ser usada na produção de hidrogênio verde, o que aumenta a demanda por energia, diminui o prejuízo das distribuidoras e desonera a tarifa dos consumidores finais.

“Na medida em que existe uma sobra de energia, essa sobra poderia ser utilizada para produção de hidrogênio verde. E o Brasil seria altamente competitivo nessa produção de hidrogênio verde — e poderia ter uma vantagem na exportação desse produto e mesmo no consumo interno. Então a produção de hidrogênio verde pode, sim, ser um destino para essa energia que está sobrando.”

O professor da Unicamp Juliano Bonacin destaca ainda o potencial de armazenamento do hidrogênio verde. 

“Se eu consigo produzir energia e eu não tenho demanda por essa energia, eu poderia estocar. Então imagina um cenário: eu coloco um painel solar na minha casa. Só que eu não estou na minha casa durante o dia para usar essa energia. Então o que eu poderia fazer? Eu poderia pegar essa energia do painel solar, convertê-la em hidrogênio e à noite, quando eu não tenho sol e estou em casa, eu poderia pegar esse hidrogênio, alimentar uma célula combustível e converter esse hidrogênio em energia elétrica.”

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