Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

O que é reforma tributária? A "Duquesa de Tax" responde

Tão presente nos noticiários e nos discursos dos políticos, a reforma tributária ainda é desconhecida por boa parte dos brasileiros. Quem explica é a especialista em direito tributário, conhecida como "Duquesa de Tax" nas redes sociais, Maria Carolina Gontijo

SalvarSalvar imagemTextoTexto para rádio

Tanto se fala dela nos noticiários. Ela é prioridade para o governo e para o Congresso Nacional. Mas boa parte dos brasileiros continua sem entender. Afinal, o que é reforma tributária? 

Quem explica é a especialista em direito tributário Maria Carolina Gontijo. A "Duquesa de Tax" tornou-se conhecida nas redes sociais por explicar de um jeito simples assuntos complicados do mundo dos impostos —  e o impacto na vida das pessoas e empresas. 

Ela explica que a reforma, na verdade, vem para reorganizar o modelo brasileiro de cobrança de tributos sobre o consumo de produtos e serviços, tido como um dos piores do mundo. Isso não quer dizer que a reforma tributária em curso visa diminuir a carga de impostos sobre a população.

"A reforma tributária não é pra você pagar menos imposto. A reforma tributária é pra gente organizar a maneira como a gente paga os tributos sobre o consumo hoje", esclarece. 

Mas para haver a necessidade de uma reforma, como se propaga por aí, é preciso que haja algo a reformar. E problemas não faltam no atual sistema, segundo os especialistas. A começar pela quantidade de impostos que os governos federal, estaduais e municipais cobram. 

O governo federal tem o IPI, o PIS e a Cofins. Os estados têm o ICMS. Os municípios, o ISS. A chamada competência tributária dá a cada ente da federação poder para fazer leis com regras próprias para a cobrança dos impostos sobre o consumo, o que inclui a definição das alíquotas, por exemplo, qual o percentual de imposto que incide sobre aquela TV que você compra.

Se por um lado isso trouxe competição entre os estados e municípios e, em alguns casos, barateou o preço de produtos e serviços, por outro, gerou o que especialistas batizaram de "manicômio tributário". Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), desde a Constituição Federal de 1988 o país criou mais de 400 mil normas tributárias. 

Uma das consequências disso é que as empresas brasileiras gastam, em média, mais de 1.500 horas por ano apenas para apurar, declarar e pagar tributos, segundo um estudo do Banco Mundial. O tempo é maior do que em qualquer outro lugar. Além disso, por produzirem sob as regras tributárias vigentes, as empresas daqui gastam R$ 300 bilhões todos os anos a mais do que se estivessem instaladas em países das Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, a OCDE, de acordo com o Movimento Brasil Competitivo. 

Por ser de difícil entendimento, o atual sistema também gera incontáveis disputas judiciais entre os contribuintes e os fiscos. É o chamado contencioso tributário, que já está na casa dos R$ 5,4 trilhões. 

Maria Carolina Gontijo explica que a reforma tem o objetivo de resolver o problema. "Na realidade, é reorganização. A gente vai fazer uma racionalização, vamos pensar em regras mais simples, mais transparentes, deixar tudo um pouco mais direto, porque hoje é bem confuso, com inúmeras regras". 

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45/2019, aprovada na Câmara dos Deputados no início de julho, propõe que os cinco impostos sobre o consumo se transformem em três. Um do governo federal, um dos entes subnacionais (estados e municípios) e um imposto seletivo, que se aplicaria aos itens considerados prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. 

O texto propõe também uma alíquota de referência que incidiria sobre a maioria dos bens e serviços e a adoção do princípio do destino, em que o imposto passaria a ser cobrado onde o item é consumido, numa tentativa de acabar com a guerra fiscal entre os estados. 

Defensores da PEC 45 argumentam que essas e outras mudanças vão ajudar a tornar o sistema mais simples, diminuindo o contencioso tributário, além do tempo gasto pelas empresas para estarem em conformidade com as regras. 

Câmara dos Deputados aprova PEC da reforma tributária em dois turnos

Receba nossos conteúdos em primeira mão.