Carlos Fávaro e Ricardo Salles, na CPI do MST. Foto: Lula Marques/Agência Brasil
Carlos Fávaro e Ricardo Salles, na CPI do MST. Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Ministro da Agricultura, em CPI, é acusado de complacência ao admitir ter “amigos” no MST

Na CPI da Câmara que investiga o MST por invadir e depredar propriedades rurais, Fávaro reconhece o direito de reivindicação mas ressalta que é contra invasões


O ministro da Agricultura Carlos Fávaro e o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) protagonizaram um debate, na última quinta-feira (17), na CPI do MST – Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga as invasões de terra no Brasil,  nesta quinta-feira (17). 

Fávaro foi à audiência na condição de convidado e resgatou, mais uma vez, a frase polêmica expressa por Salles numa reunião ministerial do então presidente Bolsonaro (PL), sobre “passar a boiada”. Na época, o relator da CPI do MST era ministro do Meio Ambiente. “Não tenho vergonha disso”, respondeu o parlamentar.
 
Os ânimos se exaltaram, no entanto, depois de Fávaro afirmar que é favorável às reivindicações do Movimento dos Sem Terra, e admitir que tem “amigos” no MST, acrescentando no entanto que “se invadir, também tem que ser responsável pelas consequências”. Salles afirmou, então, que o ministro adotava uma postura condescendente com os líderes do MST, principal alvo da investigação. 

“O ministro da Agricultura do Brasil entende que é legítimo invadir terra devoluta”, provocou Salles. Em seguida, Fávaro, tentou se explicar: “A reivindicação é legítima, o direito à propriedade é legítimo. Quem invadir responde por isso. Não estou dizendo que ele [o manifestante] não tem a oportunidade de invadir”, afirmou o ministro.

Direito legítimo

“Para não ser acusado de colocar palavras na sua boca, eu não vou ressaltar novamente que o senhor respondeu que é legítimo as formas de reivindicação, mas a maneira do senhor responder deixa espaço, sim, que o senhor não condena ‘tanto’ a invasão de terra devoluta”, completou Salles, que cobrou novamente um posicionamento mais claro do ministro, questionando: “Qualquer manifestação que invada espaços públicos e privados é crime?”

“É crime”, respondeu Fávaro. 'É muito claro o que estou dizendo. A reivindicação e o movimento que achar que ele deve invadir, também tem que ser responsável pelas consequências. Mas eu não posso dizer que o movimento não tem a oportunidade de invadir. Agora, reivindicar eu estou dizendo que é legítimo”, retificou o ministro. Diante da insistência do depoente em mostrar que é contra invasões de terras devolutas, o relator da CPI mudou a estratégia e  provocou o ministro, em uma tentativa de constrangê-lo com o governo: “Fica consignado, então, que o ministro do governo do PT não concorda que qualquer movimento possa invadir terra devoluta”, afirmou o relator. Nesse momento, o ministro ficou em silêncio.

Fantoche

Durante a sessão, o ministro foi acusado por vários deputados da oposição de ser apenas um “fantoche” do governo Lula (PT), para passar a imagem à sociedade que o governo apoia o agronegócio. Os oposicionistas ressaltaram que, apesar de Fávaro declarar que invasão é crime, o governo não estaria agindo com rigidez contra movimentos que invadem e destroem fazendas produtivas. 

Aprosoja

Fávaro criticou por mais de uma vez a Associação Brasileira dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja), entidade da qual já foi presidente e vice-presidente, por muitos anos. Questionado por parlamentares presentes à Comissão, o ministro da Agricultura disse que a entidade se perdeu e se politizou.  

“O objetivo pelo qual criamos a Aprosoja em 2006, portanto há 16 anos, se desvirtuou. A entidade perdeu legitimidade nos temas e na forma de conduzir. Ela se politizou e fico muito triste com os caminhos que a Aprosoja tomou”, reafirmou.

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LOC: O ministro da Agricultura Carlos Fávaro e o deputado federal Ricardo Salles (do PL de São Paulo) protagonizaram um debate, nesta quinta-feira (dia 17), na CPI do MST – Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga as invasões de terra no Brasil.

Os ânimos se exaltaram, depois de Fávaro afirmar que é favorável às reivindicações do MST (Movimento dos Sem Terra), e admitir que tem “amigos” dentro do Movimento, acrescentando no entanto que “se invadir, também tem que ser responsável pelas consequências”. Salles afirmou, então, que o ministro adotava uma postura muito condescendente com os líderes do MST, principal alvo da investigação do colegiado.

“O ministro da Agricultura do Brasil entende que é legítimo invadir terra devoluta”, provocou Salles, mas em seguida, Carlos Fávaro tentou demonstrar que é contra as invasões e a destruição de propriedades rurais realizadas por membros do Movimento.

SONORA: Ministro da Agricultura Carlos Fávaro

“'É simples. É muito claro o que estou dizendo. A reivindicação e o movimento que queira, e se ele achar que ele deve invadir, também tem que ser responsável pelas consequências. Mas eu não posso dizer que o movimento não tem a oportunidade de invadir. Agora, reivindicar eu estou dizendo que é legítimo."
 


LOC: Diante do embate entre o representante do governo e o relator da CPI, a sessão teve que ser paralisada várias vezes pelo presidente do colegiado, deputado Arthur Maia (do União Brasil da Bahia), por causa dos ânimos exautados de vários parlamentares da base do governo e também da oposição. Depois de restabelecida a ordem, Ricardo Salles voltou a questionar Carlos Fávaro, acusando o ministro da Agricultura de ser muito condescendente com os crimes praticados pelo MST.

SONORA: Deputado federal Ricardo Salles (PL-SP)

“Para não ser acusado de colocar palavras na sua boca, eu não vou ressaltar novamente que o senhor respondeu que é legítimo as formas de reivindicação. Porque a maneira como o senhor está respondendo deixa espaço, sim, que o senhor não condena ‘tanto’ a invasão de terra devoluta.”

 


LOC: Durante a sessão, por mais de uma vez o ministro da Agricultura criticou a Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja do Brasil), entidade da qual Fávaro já foi presidente e vice-presidente, por muitos anos. Ele disse que a entidade se perdeu e se politizou. Outro momento também que rendeu muita discussão, aconteceu quando vários deputados da oposição disseram que o ministro seria apenas um “fantoche” nas mãos do presidente Lula. Segundo esses parlamentares, o governo tenta passar à sociedade uma imagem de que apoia o agronegócio mas, apesar de o ministro declarar que a invasão de terras é crime, o governo não estaria agindo com rigidez para impedir que os movimentos continuem invadindo e destruindo fazendas produtivas.

Reportagem: Jose Roberto Azambuja