LOC.: Em meio à reconstrução de casas, escolas e hospitais — depois de viver a pior tragédia climática do estado — o Rio Grande do Sul ainda enfrenta uma outra realidade no que diz respeito à saúde: a distribuição desigual e a falta de médicos.
A média de profissionais está abaixo do nível recomendado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mas no estado gaúcho, apenas 6,67% das regiões de saúde conseguiram superar essa marca.
O desastre climático atinge mais fortemente algumas áreas, e impacta a saúde de formas diferentes, destaca Alcindo Ferla, pesquisador e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
TEC/SONORA: Alcindo Ferla, pesquisador e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
“Muitas unidades de saúde no Rio Grande do Sul foram destruídas e o lugar de trabalho de muitos profissionais foi afetado. Objetivamente não tínhamos uma formação adequada e faltaram profissionais de saúde.”
LOC.: E o cenário da cobertura médica no estado ainda pode ficar pior, já que o Ministério da Educação (MEC) pode negar 23 pedidos de abertura de novos cursos ou de aumento de vagas nas faculdades já existentes no estado, com base em uma mudança nos critérios de avaliação.
Hoje, há 23 processos para a abertura de novos cursos no Rio Grande do Sul tramitando no MEC, mas a tendência é que todos eles sejam rejeitados, considerando a mudança de critérios imposta pelo MEC a partir da Portaria nº 531/2023. A portaria considera apenas o número de médicos por município e não as regiões da saúde, conceito muito mais amplo e abrangente. Avaliação que descumpre a Lei do Mais Médicos.
A restrição tem um impacto grande na educação e na saúde, como explica o pesquisador.
TEC/SONORA: Alcindo Ferla, pesquisador e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
“Primeiro por ela revelou uma incapacidade grande do fluxo regulatório do atual MEC de entender como funciona o sistema de saúde brasileiro. Parece que o MEC ainda tem a expectativa de fazer uma regulação com base nos modelos pedagógicos e não entrar muito em certos conflitos de interesses, sejam eles corporativos e da própria capacidade de compreensão.”
LOC.: Para o pesquisador, se usarmos essa lógica regulatória — tanto da formação, quanto do trabalho — a população que está nos outros 70%, que englobam os municípios menores “ têm menos direito à saúde”, o que para Alcindo Ferla, do ponto de vista ético, é uma atrocidade.
Reportagem, Lívia Braz