Fertilizantes: com guerra, Brasil vê chances de explorar potássio

A dependência pode cair de 97% para 48% até 2050, considerando a única mina em operação em Sergipe, mais os projetos e estudos na Bacia do Amazonas

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Foto: Brasil Mineral

A invasão russa na Ucrânia deve impactar o mercado de fertilizantes potássicos, já que Belarus, um dos maiores fornecedores mundiais da commodity, não apenas faz fronteira com os dois países em conflito, como o seu presidente, Aleksandr Lukashenko, é um aliado do presidente Vladimir Putin. 

Em setembro de 2020, uma greve dos trabalhadores da estatal bielorrussa Belaruskali ameaçou o fornecimento de potássio, inflacionando o mercado. A empresa é responsável pela produção de 18% do potássio consumido no mundo. 

Além disso, a Rússia é outro player mundial, com a produção concentrada próxima à região dos Montes Urais. Ou seja, as sanções econômicas devido ao conflito atingem dois países que lideram a produção de um dos principais insumos agrícolas, que forma, junto com o fosfato e nitrogênio, o composto NPK.

“O mercado do potássio entrou em alerta devido à guerra Ucrânia/Rússia. A preocupação é com a elevação de preços e com o fornecimento do insumo. Trata-se de uma questão de segurança alimentar”, explicou Marcio Remédio, diretor de Geologia e Recursos Minerais do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM). 

O SGB-CPRM participou da construção dos documentos que subsidiaram o Plano Nacional de Fertilizantes, que prevê investimentos em tecnologia, pesquisa e inovação para atenuar a alta dependência. 

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No caso do potássio, a necessidade de importação pode cair de 97% para 48% até 2050. Esse percentual considera o aumento da produção em Sergipe, única mina em operação no país, somado aos projetos e estudos existentes na Bacia do Amazonas e outras regiões sedimentares, caso eles deslanchem nos próximos anos.

Os estudos são realizados pelo SGB-CPRM, que desenvolve pesquisas geológicas em busca de alvos potenciais para a produção de potássio, com foco na indústria de fertilizantes. “Temos outras bacias sedimentares que poderiam ser mais bem pesquisadas para encontrar novas reservas nacionais. Precisamos investir em pesquisa”, alertou Remédio. 

O diretor cita como destaque o estudo na Bacia do Amazonas, lançado em 2020, que identificou novas ocorrências e ampliou em 70% a potencialidade sobre depósitos de sais de potássio, ou silvinita, como é denominado o mineral cloreto de potássio, do qual se extrai o potássio. O estudo identifica esses recursos como um depósito de classe mundial, semelhante às maiores regiões produtoras. 

Os depósitos de potássio econômicos são ocorrências geológicas extremamente raras, associados a antigas bacias sedimentares. A partir de intensa evaporação, em antigos ambientes marinhos mais restritos, os sais se concentram e precipitam de acordo com uma ordem de solubilidade, dos menos para os mais solúveis. 

Nessa ordem, os sais de potássio e magnésio, mais solúveis, são os últimos a se formarem. São condições específicas de grande evaporação. No caso da Bacia do Amazonas, são resultado da evaporação de mares antigos, que secaram entre 310 a 280 milhões de anos atrás. O potássio é uma commodity estratégica mundial. Além de Belarus e a região dos Montes Urais, na Rússia, a província de Saskatchewan, no Canadá, também lidera a produção mundial.