Fotos: Gilberto Sousa/Agência de Notícias da Indústria
Fotos: Gilberto Sousa/Agência de Notícias da Indústria

Diminuir a desigualdade social passa pela inclusão no mercado de trabalho

Esse foi o consenso entre os participantes de seminário sobre os 200 anos da Independência, promovido pela CNI. Governos e sociedade civil precisam ver a diversidade e as particularidades de cada local e população como uma chance para inserção no setor produtivo, disse a socióloga Maria Alice Setúbal


Os participantes do debate sobre Desenvolvimento Social — promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), como parte do evento que celebra os 200 Anos de Independência — reiteraram que um dos caminhos para que o Brasil diminua a desigualdade social é a inclusão das pessoas pobres no mercado de trabalho. Segundo eles, isso só será possível se o poder público e a sociedade civil enxergarem a diversidade e as particularidades de cada local e população como uma chance de inserção no setor produtivo. 

Maria Alice Setúbal, socióloga e ex-presidente do Conselho de Administração do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC), pontuou que é preciso haver integração entre a esfera pública, a sociedade e o setor produtivo para entender as necessidades e explorar o potencial de cada comunidade. 

“O Estado tem que olhar para as diferentes regiões do Brasil. As diversidades e as potências são muito grandes. Então, a gente pode ter políticas universais macro, mas daqui de Brasília ou do Palácio Bandeirantes, em São Paulo, não conseguem chegar na população que está ali no território, como a gente viu inúmeras vezes na pandemia. Isso só será feito numa integração entre governos, sociedade civil, organizações de base e empresas”, afirmou. 

Celso Athaíde, ativista social e fundador da Central Única das Favelas (CUFA), reforçou que o direito ao trabalho é uma garantia da Constituição Federal.  Segundo ele, é preciso olhar para as favelas, por exemplo, como locais com desafios específicos que, por sua vez, demandam estratégias particulares.  

“A pobreza é diferente em cada lugar e, por isso, o direito ao trabalho dessas pessoas que estão nesse estado de pobreza precisa ser percebido com a vocação de cada um desses lugares. As favelas da Rocinha e Heliópolis são maiores do que 80% das cidades. Se você pensar que essas favelas não têm prefeitos, elas podem pensar na pobreza daquele lugar da mesma maneira que você tem políticas para as cidades”, acredita. 

Presente no seminário, o deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA) afirmou que apesar do desenvolvimento econômico alcançado desde a independência, as desigualdades sociais permanecem acentuadas no Brasil. Segundo o parlamentar, a solução desse problema passa pela contribuição do governo, do setor produtivo e da sociedade civil. “Quando a CNI incorpora na sua preocupação para os próximos anos o desafio de superar as desigualdades sociais, eu considero algo relevante, necessário. Toda a sociedade brasileira tem contribuição a dar nesse desafio”, pontua. 

Desafios
Questionado sobre a relação entre a educação e desenvolvimento social, Athaíde destacou que é preciso modernizar o modelo de ensino, de forma que ele faça mais sentido no contexto de cada estudante. “Acho que é preciso repensar o modelo de educação, esses estudos pela internet, que tipo de aula digital você tem, como você incorpora os games no estudo, porque temos, por exemplo, um milhão de jovens numa competição de games. Como a gente não usa essa linguagem para que eles possam aprender a estudar?”, questionou. 

Durante sua palestra, a historiadora Lilia Schwarcz explicou como a Independência do Brasil em 1822 foi ressignificada ao longo dos últimos 200 anos. Ela aproveitou para fazer uma reflexão sobre a participação política. 

“As pesquisas mostram como uma série de jovens que poderiam votar têm aberto mão da política e têm crescentemente chamado atenção de que a política não é para eles, esquecendo que a política não é apenas essa dos políticos, mas a arte de viver em conjunto, de defender os seus direitos, de cumprir os seus deveres. É hora de contar cada vez mais com a nossa cidadania”, disse. 

Ricardo Paes de Barros, doutor em economia pela Universidade de Chicago e professor do Insper, destacou que só é possível gerar emprego e renda a partir do crescimento econômico. No entanto, entraves como o sistema tributário impedem o setor produtivo de deslanchar. 

“A inclusão produtiva, obviamente que vem de uma retomada de um crescimento sustentável. Quanto maior o crescimento, maior vai ser a quantidade de empregos que vamos gerar. Isso precisa vir do Brasil ter um ambiente de negócios muito melhor, porque hoje o Brasil está na posição 120 do índice Doing Business do Banco Mundial. Com uma legislação trabalhista extremamente complexa, uma legislação tributária impossível, é bem difícil você abrir novos negócios”, disse. 

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200 Anos de Independência
A série de seminários do evento 200 Anos de Independência — A indústria e o futuro do Brasil terá, ainda, mais dois seminários. Na próxima quarta-feira (11), o tema é “Desenvolvimento Industrial, Científico e Tecnológico”. No dia 1º de junho, será a vez de debater “Educação e Cidadania”. 

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LOC.: Diminuir a desigualdade social no Brasil passa pela inclusão das pessoas pobres no mercado de trabalho. É o que repetiram diversas vezes os participantes do seminário sobre Desenvolvimento Social, promovido pela Confederação Nacional da Indústria, a CNI, como parte das celebrações dos 200 anos de Independência, nesta quarta-feira (4).  

A socióloga Maria Alice Setúbal disse que é preciso haver integração entre a esfera pública, a sociedade e o setor produtivo para entender as necessidades e explorar o potencial de cada comunidade. 

TEC./SONORA: Maria Alice Setúbal, socióloga 
 

“O Estado tem que olhar para as diferentes regiões do Brasil. As diversidades e as potências são muito grandes. Então, a gente pode ter políticas universais macro, mas daqui de Brasília ou do Palácio Bandeirantes, em São Paulo, não conseguem chegar na população que está ali no território, como a gente viu inúmeras vezes na pandemia. Isso só será feito numa integração entre governos, sociedade civil, organizações de base e empresas”. 


LOC.: Celso Athaíde, ativista social e fundador da Central Única das Favelas, a CUFA, reforçou que o direito ao trabalho é uma garantia da Constituição Federal.  Segundo ele, só será possível gerar emprego e renda se o poder público e a sociedade civil enxergarem a diversidade e as particularidades de cada local e população. 

TEC./SONORA: Celso Athaíde, ativista social e fundador da Central Única das Favelas (CUFA),
 

“A pobreza é diferente em cada lugar e, por isso, o direito ao trabalho dessas pessoas que estão nesse estado de pobreza precisa ser percebido com a vocação de cada um desses lugares. As favelas da Rocinha e Heliópolis são maiores do que 80% das cidades. Se você pensar que essas favelas não têm prefeitos, elas podem pensar na pobreza daquele lugar da mesma maneira que você tem políticas para as cidades”. 


LOC.: Presente no seminário, o deputado Daniel Almeida (PC do B-BA) afirmou que a solução da desigualdade passa pela contribuição do governo, do setor produtivo e da sociedade civil. 

TEC./SONORA: Daniel Almeida (PC do B-BA), deputado federal
 

“Quando a CNI incorpora na sua preocupação para os próximos anos o desafio de superar as desigualdades sociais, eu considero algo relevante, necessário. Toda a sociedade brasileira tem contribuição a dar nesse desafio”. 


LOC.: A série de seminários do evento 200 Anos de Independência — A indústria e o futuro do Brasil terá, ainda, mais dois seminários. Na próxima quarta-feira (11), o tema é “Desenvolvimento Industrial, Científico e Tecnológico”. No dia 1º de junho, será a vez de debater “Educação e Cidadania”.