Foto: Breno Esaki/Agência Saúde Brasília
Foto: Breno Esaki/Agência Saúde Brasília

Circulação viral da Covid-19 e sequelas alertam para cuidados mesmo com vacinação em curso

Especialistas ressaltam que ainda há uma grande quantidade de pessoas suscetíveis à Covid-19 e que mesmo os curados podem ter sequelas graves, problemas que só serão evitados com a diminuição da circulação viral aliada à vacinação

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A análise sobre o futuro da pandemia no Brasil liga alertas para a população que relaxou nas medidas de contenção à Covid-19. Embora a vacinação avance para grupos prioritários, especialistas ressaltam que o cenário dos próximos meses possui condicionantes perigosas que podem trazer números trágicos e efeitos prolongados.

Dois pontos são apontados como preocupantes diante do comportamento atual da sociedade. O primeiro está relacionado à grande quantidade de pessoas suscetíveis ao vírus, pois ainda há muitos brasileiros que não adquiriram imunidade naturalmente, após a infecção, ou por meio da vacina, o que possibilita uma possível terceira onda de casos e óbitos. O segundo diz respeito às sequelas da doença, pois crescem as estatísticas e estudos que mostram problemas de saúde em curados da Covid-19.

Tarcísio Rocha, membro do Comitê Gestor do Plano de Contingência em Saúde da Covid-19 da Universidade de Brasília (COES-UnB), é enfático ao lembrar que o vírus não vai desaparecer. “Ele não tem sazonalidade, não é como o vírus da gripe. Ele vai permanecer aqui, infelizmente e provavelmente, para todo sempre. A humanidade só erradicou um único vírus até hoje em toda a sua história, que é o vírus da varíola. Todos os demais, mesmo com vacinas, continuam presentes e vão requerer cuidado”, pontua.

O professor do instituto de física da UnB também é participante de um grupo de pesquisadores de diferentes instituições do Brasil e do exterior, que vem produzindo notas técnicas desde o começo da pandemia. Na visão dele, as projeções para os próximos meses indicam a urgência em diminuir a circulação do vírus na sociedade.

“A única forma de evitar a propagação do vírus é diminuindo o contato social. Por quê? Porque o vírus se transmite quando duas pessoas estão próximas uma da outra. Se elas estão longe, o vírus não passa pela internet, por telefone, por telepatia”, exemplifica.

Futuro 

Tarcísio lembra que os cálculos sobre a chamada imunidade de rebanho, ou seja, a imunidade coletiva de boa parte da população que permite frear o avanço das contaminações, mostra que é preciso ter, em média, mais de 70% da população imunizada. “Teremos que vacinar uma ampla quantidade de pessoas, não apenas os idosos ou aquelas com comorbidades”, explica.

Por isso, o pesquisador avalia que a possibilidade de uma terceira onda é real, apesar de não ser possível saber como ela virá. “Pode-se criar as condições para uma terceira onda, sobretudo nos locais em que ainda há uma proporção muito alta de pessoas que nunca tiveram contato com o vírus. Por isso, temos que nos cuidar ainda por algum tempo”, alerta.

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Para se preparar para o futuro, especialistas ressaltam que é preciso contar com a aplicação de medidas de segurança pela população e o fortalecimento do sistema de saúde pelos governos. Essa necessidade de reconhecimento do SUS é citada por Alessandro Chagas, assessor técnico do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).

Para Alessandro, é preciso se preparar para o enfrentamento desta pandemia nos próximos meses e ainda estar pronto para outras possíveis epidemias. “A maior força que nós teremos para evitar essas próximas pandemias, que com certeza virão, é diante da segurança do sistema público e de nunca perder de vista a saúde como direito. Isso é primordial daqui para frente.”

Sequelas 

Outra preocupação do Conasems é como o sistema nacional lidará com as sequelas causadas pela Covid-19. Um estudo realizado no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (InCor), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), por exemplo, mostrou disfunções cognitivas em 80% dos pacientes que já foram contaminados. Outras pesquisas também sugerem sequelas em diferentes partes do corpo. Segundo Alessandro, ainda é cedo para dizer qual a dimensão deste problema, mas muitas questões vão surgir nos próximos anos dentro desse contexto, e a valorização do SUS, com ampliação de pessoal, por exemplo, é fundamental.

A infectologista Ana Helena Germoglio explica que, apesar do novo coronavírus ser um vírus respiratório, ele pode gerar comprometimento de, praticamente, todos os sistemas. “A síndrome pós-Covid, sem dúvida, será mais um desafio para os sistemas de saúde de todo o mundo. Vários tipos de sequelas — neurológicas, musculares, cardíacas, pulmonares — levam a necessidade de tratamento, ou reabilitação, prolongado, às vezes permanente”, detalha. 

A médica especialista avalia que o caminho para lidar com esse problema tem como base o investimento em acompanhamento multidisciplinar para esses pacientes com sequelas, o que seria fundamental para evitar novas internações por complicações pós-Covid. Nesse sentido, Ana Helena cita que é preciso ampliar a atenção básica, lembrando que outras doenças que necessitam de atendimento foram sendo deixadas de lado na pandemia. 

O Ministério da Saúde lançou, ainda em 2020, um projeto chamado Reabilitação Covid-19, que dá apoio a cinco hospitais públicos na recuperação de pacientes pós-Covid-19. “São realizadas três visitas presenciais da equipe do Sírio-Libanês para implementação de protocolos e metodologias, além de tutorias virtuais para acompanhamento dos indicadores que medirão a reabilitação, com intuito de que o paciente retorne à rotina normal”, divulgou a pasta, em nota.

O projeto foi realizado inicialmente em cinco unidades da federação, sendo implementado no Hospital Geral de Fortaleza (CE), Hospital de Base (DF), Hospital Municipal de Contagem (MG), Hospital Geral de Palmas (TO) e Hospital Geral do Trabalhador (PR). 

Os primeiros resultados mostram que houve um aumento de 26% na evolução dos pacientes em relação a independência motora e funcional. As ações continuam até 2023, e devem atender dez hospitais por ano. 

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