LOC.: A comissão mista do Congresso Nacional que analisa a Medida Provisória 868/2018, conhecida como MP do Saneamento, deve votar nesta terça-feira (7) o parecer do relator, senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).
O objetivo do texto é atualizar o marco legal do saneamento básico para dar mais liberdade à participação de empresas privadas em processos de licitação para atuar no setor.
De acordo com os últimos dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), 70% da população de Minas Gerais tem coleta de esgoto, enquanto 81,1% é atendida em relação ao abastecimento de água.
Em 2017, os municípios do estado receberam R$ 858 milhões em investimentos em serviços de água e esgoto. Esse valor, no entanto, ainda é baixo quando comparado com a média nacional. No estado, o aporte representa R$ 40,63 por habitante, 22,6% a menos que o gasto de R$ 52,53 por habitante no restante do país.
Na avaliação da diretora do Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Joisa Dutra, a proposta precisa ser aprovada para dar mais fôlego aos municípios, que passam por dificuldades financeiras.
TEC./SONORA: Joisa Dutra, diretora do Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura da Fundação Getúlio Vargas (FGV)
“Essa é uma grande fronteira que a gente tem para enfrentar do ponto de vista de desenvolvimento sustentável. O quadro é mais favorável a partir daqui: o quadro para atribuição, para prestação de serviços, regulação e que isso se reflita em metas, condições mais adequadas de fiscalização e ganhos de eficiência.”
LOC.: Com a mudança proposta na MP, os serviços de saneamento passam a ser tratados como concessões de serviços públicos. Na prática, cada município poderá fazer um leilão e escolher a melhor proposta, por exemplo, com maior volume de investimentos por uma menor tarifa. Essa proposta poderá ser apresentada tanto por empresas privadas quanto por companhias públicas.
Pela legislação atual, os municípios celebram contratos de gestão, na maioria das vezes com companhias estaduais – embora isso também possa ser feito com empresas privadas. Com a MP, o contrato de gestão deixa de existir, tornando obrigatória a concessão, com espaço para a melhor proposta.
De acordo com a Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (ABCON), o segmento privado tem 6% de participação no mercado de saneamento, muito abaixo dos 70% detido pelas companhias estaduais e dos 24% mantidos por companhias municipais de saneamento. Em Minas Gerais, 18 municípios têm investimento privado nos serviços de água e esgoto, como é o caso de Pará de Minas.
Para o presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, o ponto central do problema de saneamento é a falta de dinheiro, realidade na maioria das cidades brasileiras. Para ele, a aprovação da MP é um passo importante para garantir um serviço de qualidade à população.
TEC./SONORA: Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil
“O saneamento precisa de muito recurso. A gente está falando de mais de R$ 20 bilhões por ano, coisa que o setor público não tem com essa dificuldade fiscal que o Brasil está passando. Então, nós temos um problema de dinheiro, mas também nós temos um problema de gestão. Nós temos poucas empresas de saneamento superavitárias. É um passo importante a Medida Provisória.”
LOC.: Se for aprovado na comissão mista, o texto da MP ainda vai passar por votações nos plenário da Câmara e do Senado. Os parlamentares têm até o dia 3 de junho para aprovar a medida, data em que perde a validade.
Reportagem, Marquezan Araújo