Coordenador da Absolar Guilherme Susteras - Foto: Arquivo Pessoal
Coordenador da Absolar Guilherme Susteras - Foto: Arquivo Pessoal

Preço, tecnologia acessível e consciência ambiental levaram ao crescimento exponencial da energia solar no Brasil, afirma Absolar

O Brasil atingiu a marca histórica de 1 milhão de sistemas de energia solar instalados. Em entrevista ao portal Brasil61.com, o coordenador do Grupo de Trabalho de Geração Distribuída da Absolar, Guilherme Susteras, comenta os benefícios da geração própria de energia para todo o sistema elétrico

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O Brasil atingiu a marca histórica de 1 milhão de sistemas de energia solar instalados em telhados, fachadas e pequenos terrenos, somando 10,6 gigawatts (GW) de potência, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).

Em entrevista ao portal Brasil61.com, o coordenador do Grupo de Trabalho de Geração Distribuída da Absolar, Guilherme Susteras,  explica que o encarecimento da energia elétrica, o acesso à tecnologia de geração própria e a consciência da população quanto à sustentabilidade levaram ao crescimento exponencial de instalações de energia solar no Brasil, nos últimos anos. 

Segundo ele, a geração própria de energia traz benefícios ambientais, econômicos e sociais para o país, que são os três pilares da sustentabilidade. Além de reduzir a necessidade de acionamento das termelétricas e diminuir as perdas de transmissão de energia, a geração distribuída reduz custos, gira a economia local e gera empregos. 

Guilhermes Susteras também fala sobre as novidades do marco legal da geração distribuída (Lei 14.300/2022), que trouxe segurança jurídica para os geradores de energia própria.

Confira a entrevista:

Brasil61: O que explica esse crescimento da energia solar?

Coordenador da Absolar, Guilherme Sustera: “O sistema de geração de energia própria existe no Brasil desde 2012, mas na verdade esse é um mercado que começou a crescer de forma acelerada desde 2016. Temos percebido que a cada ano praticamente dobra o tamanho do mercado. E eu diria que tem três fatores principais que levaram a esse crescimento exponencial. O primeiro fator tem a ver com o aumento da tarifa de energia. A energia elétrica, que antes talvez era o quarto ou o quinto item principal do custo de uma empresa ou de uma residência, tem se tornado talvez o primeiro ou o segundo item. E temos as notícias dando conta de que a tarifa subiu, nos últimos cinco anos, o dobro da inflação. Então, de fato, o aumento da energia faz com que as pessoas procurem cada vez mais alternativas para controlar esse custo. Ao mesmo tempo você tem uma tendência contínua de redução do custo da tecnologia. A geração solar fotovoltaica se baseia na indústria do silício e, assim como os celulares e computadores, se beneficia muito da escala. Então, quanto mais pessoas no mundo todo instalam sistemas solares fotovoltaicos, mais barato fica de produzir o próximo sistema. E vimos quedas de custo de 5% a 10% ao ano, todo ano, nos últimos dez anos; com expectativa de que continue caindo. E o terceiro fator é que as pessoas estão cada vez mais interessadas no tema da sustentabilidade e começam a perceber que elas também podem tomar ação. Então, à medida que as pessoas veem que isso é uma realidade, que isso não é nada de outro mundo, que isso não é nenhuma ciência de foguete, isso é acessível para todo mundo, as pessoas ficam a par de que isso funciona, novas empresas são criadas para atender o mercado e fica cada vez mais fácil para as pessoas contratarem.”

Brasil61: O sistema de energia solar reduz em quantos por cento o preço da fatura de energia?

Coordenador da Absolar, Guilherme Sustera: “Tudo depende da modalidade que você adere. Então, se você é uma pequena residência, ou uma média residência, e instala um sistema no seu próprio telhado, você consegue reduzir quase a totalidade dessa conta. Praticamente 95%, porque você tem que continuar pagando para concessionária o consumo mínimo, que a distribuidora chama de taxa de disponibilidade. Mas tem outras modalidades que chamamos de remotas, em que você não necessariamente tem um painel no seu próprio telhado, mas tem uma fazenda solar e remotamente, pela rede da concessionária, você recebe essa energia. Tem a modalidade compartilhada, em que você e outras pessoas participam desse empreendimento, ou a modalidade autoconsumo remoto, em que esse empreendimento é só seu. Isso é típico, por exemplo, das grandes redes de varejo, de empresas de telecomunicações, que têm uma usina para atender suas antenas ou as suas lojas. Nesse caso, já vimos entre 5% e 25% de redução. Mas, nesse segundo caso, não tem investimento nenhum.”

Brasil61: Não podemos deixar de falar do impacto ambiental. Por que a energia solar é considerada uma energia limpa?

Coordenador da Absolar, Guilherme Sustera: “O grande barato da energia solar distribuída é que ela traz dois enormes benefícios do ponto de vista ambiental. No mercado de energia, a geração e o consumo têm que estar instantaneamente equilibrados. Então, a cada segundo, o Operador Nacional do Sistema (ONS) garante que a quantidade de energia injetada na rede, por todas as geradoras do Brasil, e a quantidade de energia tirada da rede, por todos os consumidores do Brasil, têm que ser absolutamente iguais segundo a segundo. Então, quando você gera energia solar própria na sua casa, ou na sua empresa, ou na sua fazenda, o ONS percebe que pode deixar de usar uma outra usina em algum outro lugar. E ele deixa de usar a usina mais cara, que são as usinas termelétricas; que também são aquelas que poluem mais. E o segundo benefício associado é que, quando você tem essas gerações por grandes usinas, essa energia tem que ser transportada para os consumidores. E essa energia viaja milhares de quilômetros. Se for pensar, por exemplo, da usina de Itaipu até chegar no centro de São Paulo, são mil quilômetros. E quanto maior a distância, maior as perdas que acontecem nessa transmissão de energia. Então, ao deixar de trazer energia de longe e produzir a própria energia, não só deixa de usar a energia mais cara e poluente das termelétricas, como também ajuda a reduzir as perdas de todo o sistema. E como sustentabilidade é um tripé - tem que ser ambiental, econômico e social - do ponto de vista econômico, essa geração de energia gera investimentos privados, não tem dinheiro público envolvido. E esse investimento privado roda toda a economia local. Uma pessoa que mora no interior do Mato Grosso e instala um sistema solar no seu telhado, ela contrata uma empresa do interior do Mato Grosso para fazer essa instalação. E o dinheiro que aquela pessoa, no interior do Mato Grosso, deixou de gastar com energia elétrica, ela passa a consumir em produtos e serviços no interior do Mato Grosso. E o impacto social positivo associado a isso é a geração de emprego. A energia solar é a fonte de energia que mais gera emprego. São quase 25 empregos para cada megawatt de energia instalada. E são mais de 20 mil empresas no Brasil inteiro atuando nesse mercado. Então o impacto positivo da energia solar é nos três pilares da sustentabilidade: o ambiental, o econômico e o social.”

Brasil61: Como o marco legal da geração distribuída (Lei 14.300/2022) estimula a instalação do sistema solar no Brasil?

Coordenador da Absolar, Guilherme Sustera: “O marco legal foi uma luta de muitos anos do setor solar fotovoltaico, porque todo o mercado de geração própria de energia, de todas as fontes, mas especialmente o solar fotovoltaica - que é a grande maioria desse mercado -, se baseava em uma resolução normativa da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que é passível de ser alterada da noite para o dia; como de fato estava em vias de acontecer. Então, a introdução do marco legal da geração própria traz a tão desejada segurança jurídica a todas as pessoas que querem gerar sua própria energia. E garante que qualquer mudança de regra tem que necessariamente passar por um amplo debate da sociedade e não fica restrito apenas a um ambiente supostamente técnico de uma agência reguladora. Então, esse marco legal protege os pioneiros. Ele garante para os primeiros que acreditaram na tecnologia, investiram nos seus sistemas, que a regra de compensação de energia vai se manter estável pelo período necessário para amortizar o investimento, que são os 25 anos de investimento até 2045. Ele cria um mecanismo para que seja calculado de forma explícita todos os benefícios que a geração distribuída traz para o sistema. Então, a redução de termelétricas, redução de perdas, postergação de investimentos, essa série de benefícios precisam ser quantificados. A lei determina que a Aneel faça essa quantificação. E determina um período de transição para que novos sistemas passem a pagar um pedacinho do uso da rede, cuja nomenclatura técnica é TUSD Fio B. Isso significa o pagamento pelo aluguel das redes da distribuidora que você usa ao injetar energia de dia e pegar essa energia de volta à noite.”

Brasil61: De acordo com o marco legal da geração distribuída, as unidades consumidoras já existentes poderão continuar usufruindo, por mais 25 anos, dos benefícios concedidos pela Aneel, por meio do Sistema de Compensação de Energia Elétrica. Pode-se dizer que esse subsídio onera os demais consumidores?

Coordenador da Absolar, Guilherme Sustera: “É justamente esse o ponto que a Absolar vem demonstrando desde o início das discussões. Na prática, não existe subsídio, porque, na realidade, o que os consumidores que geram sua própria energia deixam de pagar para as distribuidoras é mais do que coberto pela redução de custo que essa geração própria ocasiona. Estamos fazendo estudos e análises, mas só o que deixamos de usar de combustível de termoelétrica - que iria se transformar em bandeiras tarifárias ainda maiores para os consumidores - mais do que cobre qualquer valor que os geradores próprios deixaram de pagar para as distribuidoras. Por isso é importante esse cálculo feito pela Aneel, para achar de fato qual é o valor justo a ser pago para fazer o zero a zero. Ninguém do sistema de geração própria quer subsídio. Sabemos que isso tem que ser justo. Mas também não queremos pagar mais do que aquilo que deveríamos pagar.”

Brasil61: Como os grandes consumidores, como a indústria por exemplo, podem se beneficiar do marco legal da geração distribuída?

Coordenador da Absolar, Guilherme Sustera: “Os grandes consumidores de energia, na verdade, já tem um marco próprio de geração própria de energia há muitos anos. Porque eles podem optar por acessar o mercado livre de energia. E no mercado livre de energia tem a figura da autoprodução de energia. Então, muitos desses grandes consumidores de energia já se beneficiam da energia solar através de usinas de grande porte, que chamamos de geração centralizada, para atender sua própria demanda. A diferença fundamental é que se você participa do marco legal da geração distribuída, a sua usina não precisa necessariamente estar no seu telhado; pode estar em uma fazenda solar remota. Mas ela necessariamente tem que estar na mesma concessionária de distribuição de energia de onde você está. Se você, por outro lado, é uma grande indústria e está no mercado livre de energia, essa sua usina pode estar em qualquer lugar do Brasil, desde que ligado ao Sistema Interligado Nacional. E muitas dessas grandes indústrias, com usinas solares na Bahia, na Paraíba, no Piauí, no Ceará, estão usufruindo dessa energia em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, etc. Então, os grandes consumidores de energia já vem se beneficiando da produção própria de energia e de todas as fontes. Historicamente hidrelétrica, depois eólica e, agora mais recentemente, a solar. Mas essas são usinas de muito maior porte.”

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LOC.: O Brasil atingiu a marca histórica de 1 milhão de sistemas de energia solar instalados em telhados, fachadas e pequenos terrenos, somando 10,6 gigawatts (GW) de potência, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, a Absolar.

Para falar sobre o assunto, vamos conversar com o coordenador do Grupo de Trabalho de Geração Distribuída da Absolar,  Guilherme Susteras.

Guilherme, o que explica esse crescimento da energia solar?

TEC.SONORA: Guilherme Susteras, coordenador da Absolar.

“O sistema de geração de energia própria existe no Brasil desde 2012, mas na verdade esse é um mercado que começou a crescer de forma acelerada desde 2016. Temos percebido que a cada ano praticamente dobra o tamanho do mercado. E eu diria que tem três fatores principais que levaram a esse crescimento exponencial. O primeiro fator tem a ver com o aumento da tarifa de energia. A energia elétrica, que antes talvez era o quarto ou o quinto item principal do custo de uma empresa ou de uma residência, tem se tornado talvez o primeiro ou o segundo item. E temos as notícias dando conta de que a tarifa subiu, nos últimos cinco anos, o dobro da inflação. Então, de fato, o aumento da energia faz com que as pessoas procurem cada vez mais alternativas para controlar esse custo. Ao mesmo tempo você tem uma tendência contínua de redução do custo da tecnologia. A geração solar fotovoltaica se baseia na indústria do silício e, assim como os celulares e computadores, se beneficia muito da escala. Então, quanto mais pessoas no mundo todo instalam sistemas solares fotovoltaicos, mais barato fica de produzir o próximo sistema. E vimos quedas de custo de 5% a 10% ao ano, todo ano, nos últimos dez anos; com expectativa de que continue caindo. E o terceiro fator é que as pessoas estão cada vez mais interessadas no tema da sustentabilidade e começam a perceber que elas também podem tomar ação. Então, à medida que as pessoas veem que isso é uma realidade, que isso não é nada de outro mundo, que isso não é nenhuma ciência de foguete, isso é acessível para todo mundo, as pessoas ficam a par de que isso funciona, novas empresas são criadas para atender o mercado e fica cada vez mais fácil para as pessoas contratarem.”


LOC.: O sistema de energia solar reduz em quantos por cento o preço da fatura de energia?

TEC.SONORA: Guilherme Susteras, coordenador da Absolar.

“Tudo depende da modalidade que você adere. Então, se você é uma pequena residência, ou uma média residência, e instala um sistema no seu próprio telhado, você consegue reduzir quase a totalidade dessa conta. Praticamente 95%, porque você tem que continuar pagando para concessionária o consumo mínimo, que a distribuidora chama de taxa de disponibilidade. Mas tem outras modalidades que chamamos de remotas, em que você não necessariamente tem um painel no seu próprio telhado, mas tem uma fazenda solar e remotamente, pela rede da concessionária, você recebe essa energia. Tem a modalidade compartilhada, em que você e outras pessoas participam desse empreendimento, ou a modalidade autoconsumo remoto, em que esse empreendimento é só seu. Isso é típico, por exemplo, das grandes redes de varejo, de empresas de telecomunicações, que têm uma usina para atender suas antenas ou as suas lojas. Nesse caso, já vimos entre 5% e 25% de redução. Mas, nesse segundo caso, não tem investimento nenhum.”


LOC.: Não podemos deixar de falar do impacto ambiental. Por que a energia solar é considerada uma energia limpa?

TEC.SONORA: Guilherme Susteras, coordenador da Absolar.

“O grande barato da energia solar distribuída é que ela traz dois enormes benefícios do ponto de vista ambiental. No mercado de energia, a geração e o consumo têm que estar instantaneamente equilibrados. Então, a cada segundo, o Operador Nacional do Sistema (ONS) garante que a quantidade de energia injetada na rede, por todas as geradoras do Brasil, e a quantidade de energia tirada da rede, por todos os consumidores do Brasil, têm que ser absolutamente iguais segundo a segundo. Então, quando você gera energia solar própria na sua casa, ou na sua empresa, ou na sua fazenda, o ONS percebe que pode deixar de usar uma outra usina em algum outro lugar. E ele deixa de usar a usina mais cara, que são as usinas termelétricas; que também são aquelas que poluem mais. E o segundo benefício associado é que, quando você tem essas gerações por grandes usinas, essa energia tem que ser transportada para os consumidores. E essa energia viaja milhares de quilômetros. Se for pensar, por exemplo, da usina de Itaipu até chegar no centro de São Paulo, são mil quilômetros. E quanto maior a distância, maior as perdas que acontecem nessa transmissão de energia. Então, ao deixar de trazer energia de longe e produzir a própria energia, não só deixa de usar a energia mais cara e poluente das termelétricas, como também ajuda a reduzir as perdas de todo o sistema. E como sustentabilidade é um tripé - tem que ser ambiental, econômico e social - do ponto de vista econômico, essa geração de energia gera investimentos privados, não tem dinheiro público envolvido. E esse investimento privado roda toda a economia local. Uma pessoa que mora no interior do Mato Grosso e instala um sistema solar no seu telhado, ela contrata uma empresa do interior do Mato Grosso para fazer essa instalação. E o dinheiro que aquela pessoa, no interior do Mato Grosso, deixou de gastar com energia elétrica, ela passa a consumir em produtos e serviços no interior do Mato Grosso. E o impacto social positivo associado a isso é a geração de emprego. A energia solar é a fonte de energia que mais gera emprego. São quase 25 empregos para cada megawatt de energia instalada. E são mais de 20 mil empresas no Brasil inteiro atuando nesse mercado. Então o impacto positivo da energia solar é nos três pilares da sustentabilidade: o ambiental, o econômico e o social.”


LOC.: Como o marco legal da geração distribuída (Lei 14.300/2022) estimula a instalação do sistema solar no Brasil?

TEC.SONORA: Guilherme Susteras, coordenador da Absolar.

“O marco legal foi uma luta de muitos anos do setor solar fotovoltaico, porque todo o mercado de geração própria de energia, de todas as fontes, mas especialmente o solar fotovoltaica - que é a grande maioria desse mercado -, se baseava em uma resolução normativa da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que é passível de ser alterada da noite para o dia; como de fato estava em vias de acontecer. Então, a introdução do marco legal da geração própria traz a tão desejada segurança jurídica a todas as pessoas que querem gerar sua própria energia. E garante que qualquer mudança de regra tem que necessariamente passar por um amplo debate da sociedade e não fica restrito apenas a um ambiente supostamente técnico de uma agência reguladora. Então, esse marco legal protege os pioneiros. Ele garante para os primeiros que acreditaram na tecnologia, investiram nos seus sistemas, que a regra de compensação de energia vai se manter estável pelo período necessário para amortizar o investimento, que são os 25 anos de investimento até 2045. Ele cria um mecanismo para que seja calculado de forma explícita todos os benefícios que a geração distribuída traz para o sistema. Então, a redução de termelétricas, redução de perdas, postergação de investimentos, essa série de benefícios precisam ser quantificados. A lei determina que a Aneel faça essa quantificação. E determina um período de transição para que novos sistemas passem a pagar um pedacinho do uso da rede, cuja nomenclatura técnica é TUSD Fio B. Isso significa o pagamento pelo aluguel das redes da distribuidora que você usa ao injetar energia de dia e pegar essa energia de volta à noite.”


LOC.: De acordo com o marco legal da geração distribuída, as unidades consumidoras já existentes poderão continuar usufruindo, por mais 25 anos, dos benefícios concedidos pela Aneel, por meio do Sistema de Compensação de Energia Elétrica. Pode-se dizer que esse subsídio onera os demais consumidores?

TEC.SONORA: Guilherme Susteras, coordenador da Absolar.

“É justamente esse o ponto que a Absolar vem demonstrando desde o início das discussões. Na prática, não existe subsídio, porque, na realidade, o que os consumidores que geram sua própria energia deixam de pagar para as distribuidoras é mais do que coberto pela redução de custo que essa geração própria ocasiona. Estamos fazendo estudos e análises, mas só o que deixamos de usar de combustível de termoelétrica - que iria se transformar em bandeiras tarifárias ainda maiores para os consumidores - mais do que cobre qualquer valor que os geradores próprios deixaram de pagar para as distribuidoras. Por isso é importante esse cálculo feito pela Aneel, para achar de fato qual é o valor justo a ser pago para fazer o zero a zero. Ninguém do sistema de geração própria quer subsídio. Sabemos que isso tem que ser justo. Mas também não queremos pagar mais do que aquilo que deveríamos pagar.”


LOC.: Como os grandes consumidores, como a indústria por exemplo, podem se beneficiar do marco legal da geração distribuída?

TEC.SONORA: Guilherme Susteras, coordenador da Absolar.

“Os grandes consumidores de energia, na verdade, já tem um marco próprio de geração própria de energia há muitos anos. Porque eles podem optar por acessar o mercado livre de energia. E no mercado livre de energia tem a figura da autoprodução de energia. Então, muitos desses grandes consumidores de energia já se beneficiam da energia solar através de usinas de grande porte, que chamamos de geração centralizada, para atender sua própria demanda. A diferença fundamental é que se você participa do marco legal da geração distribuída, a sua usina não precisa necessariamente estar no seu telhado; pode estar em uma fazenda solar remota. Mas ela necessariamente tem que estar na mesma concessionária de distribuição de energia de onde você está. Se você, por outro lado, é uma grande indústria e está no mercado livre de energia, essa sua usina pode estar em qualquer lugar do Brasil, desde que ligado ao Sistema Interligado Nacional. E muitas dessas grandes indústrias, com usinas solares na Bahia, na Paraíba, no Piauí, no Ceará, estão usufruindo dessa energia em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, etc. Então, os grandes consumidores de energia já vem se beneficiando da produção própria de energia e de todas as fontes. Historicamente hidrelétrica, depois eólica e, agora mais recentemente, a solar. Mas essas são usinas de muito maior porte.”


LOC.: Chegamos ao final da nossa entrevista. Muito obrigada pelos esclarecimentos, Guilherme Susteras, coordenador do Grupo de Trabalho de Geração Distribuída da Absolar, que destacou os principais benefícios da geração própria de energia para o sistema elétrico. 

Reportagem, Paloma Custódio