Transformar um problema ambiental em solução para a produção de alimentos é a proposta do Sistema SARA, desenvolvido pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) e pelo Instituto Nacional do Semiárido (INSA). A tecnologia, que reaproveita águas residuárias no campo, é um dos destaques da 22ª Feira Nacional de Ciência e Tecnologia, promovida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
O SARA é um modelo de coleta e tratamento de esgoto domiciliar que transforma águas residuárias em recurso produtivo para a agricultura familiar, escolas e comunidades rurais. A tecnologia foi criada para enfrentar dois grandes desafios da região: a escassez hídrica crônica e a ausência de saneamento básico nas zonas rurais. “O MIDR está aqui porque acredita nesta estratégia de desenvolvimento sustentável para o Semiárido, onde conseguimos agregar vários eixos na perspectiva do desenvolvimento. O homem do campo entra num ciclo virtuoso com a produção de alimentos e a irrigação sustentável, tudo isso agregado à questão da saúde, porque deixamos de ter os famosos esgotos a céu aberto”, destacou a coordenadora-geral de Instrumentos da Política Nacional de Irrigação do MIDR, Rose Edna Pondé.
Com 25 unidades implantadas entre 2020 e 2024, distribuídas em oito estados do semiárido (AL, BA, CE, MG, PB, PE, PI e SE), o Sistema SARA já beneficiou 153 famílias agricultoras e 586 alunos de escolas rurais. Além disso, 32 novas unidades estão em fase de implantação, com investimento total de R$ 3,5 milhões desde o início das ações. “Essas experiências são todas exitosas porque o homem do campo passa a reutilizar 100% das águas utilizadas pela família. Elas são tratadas de forma física e biológica, de modo natural, preservando o meio ambiente. Essa água é usada na irrigação por gotejamento, o que garante produção de alimentos, renda e um ambiente preservado para o semiárido brasileiro”, completou Rose.
Soluções sustentáveis de saneamento
O pesquisador do INSA, Matheus Cunha, explica que a tecnologia foi desenvolvida a partir de um projeto iniciado em 2016, com o objetivo de oferecer soluções sustentáveis de saneamento e reúso. “A tecnologia SARA foi pensada para resolver o problema do saneamento rural e, ao mesmo tempo, oferecer água segura para a produção de alimentos. Ela trata todo o esgoto da residência, inclusive o do vaso sanitário, passando por três níveis de tratamento físico e biológico, sem uso de produtos químicos. Ao final, o agricultor tem uma água própria para irrigação, rica em nutrientes e segura do ponto de vista sanitário”, afirmou.
Segundo ele, a parceria entre o MIDR e o INSA tem sido essencial para difundir o uso do sistema no semiárido. “Essa cooperação é fundamental para levar a tecnologia a famílias carentes que vivem nos rincões do semiárido. É uma solução baseada na natureza, de fácil implantação e manutenção, e que transforma a vida das pessoas, garantindo dignidade, renda e sustentabilidade”, destacou Matheus.
Com custo acessível, cerca de R$ 13 mil por família, e vida útil estimada em 20 anos, o Sistema SARA tem se mostrado um modelo replicável e eficiente, com potencial de integração a outros programas do MIDR, como o Programa Água Doce, ampliando o número de localidades beneficiadas e fortalecendo a resiliência climática das comunidades rurais.