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Endossada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a campanha global "Semana Mundial de Conscientização Antimicrobiana" vai até o dia 24 de novembro e pretende conscientizar a população para combater a resistência a antibióticos e outros medicamentos antimicrobianos. Essa resistência ameaça a prevenção e tratamento de uma série de infecções.
Quando criada, essa resistência antimicrobiana pode ameaçar a prevenção e tratamento de uma série de infecções causadas por bactérias, parasitas, vírus e fungos. Assim, as infecções mais comuns ficam difíceis de tratar, aumentando o risco de propagação de doenças graves, com possibilidade de morte.
São diversos os fatores que aceleraram este problema, entretanto, o uso excessivo e incorreto de medicamentos em seres humanos é a maior preocupação das autoridades de Saúde. Segundo pesquisa do Conselho Federal de Farmácia (CFF), 77% dos brasileiros se automedicam, ou seja, tomam um medicamento por conta própria, sem ter uma avaliação médica acerca do diagnóstico dos sintomas clínicos, e isso pode ter consequências graves.
“Os riscos vão do menos grave, como uma reação alérgica leve, pode ter uma erupção cutânea, uma dor de cabeça, náusea, vômito ou diarréia. Até os riscos graves, como choque anafilático, em que cai a pressão arterial da pessoa, e a pessoa pode entrar em choque e até evoluir para óbito", esclarece Claudia Vidal, diretora científica da Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente (Sobrasp).
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A pesquisa ainda revelou que quase metade dos brasileiros (47%) se automedica pelo menos uma vez por mês e 25% o faz todo dia ou pelo menos uma vez por semana. Com 53%, as mulheres são as que mais usam medicamentos por conta própria, pelo menos uma vez ao mês.
A resistência dos microrganismos a medicamentos antimicrobianos pode tirar a vida de 10 milhões de pessoas, a cada ano, até 2050, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Por isso, a organização reconhece a resistência antimicrobiana como uma das 10 maiores ameaças à saúde pública.
“Os antibióticos são uma arma muito forte para o enfrentamento de infecções. Muitos deles não funcionam mais para as bactérias que comumente eles conseguiam tratar, por conta do uso excessivo e, muitas vezes, não apropriado. Ele [o antibiótico] só deve ser usado se o paciente tiver uma infecção e precisa ser administrado a partir de uma consulta médica”, afirma Claudia Vidal.
A diretora detalha, ainda, que quem faz a automedicação com antibióticos pode usar um medicamento inadequado para aquele tipo de infecção e, fazendo isso, as bactérias sensíveis morrem, favorecendo o crescimento das bactérias resistentes. Assim, a infecção, que seria comum, fica cada vez mais difícil de tratar.
Apesar da OMS e diversos pesquisadores da área acreditarem no aumento significativo do uso de antibióticos na pandemia, ainda não há um balanço completo. Membro do Conselho Federal de Farmácia, Dr. Gustavo Pires, acredita que no próximo levantamento haverá uma alta expressiva nos números de automedicação.
“Devido ao novo vírus circulante e ainda poucos estudos frente ao enfrentamento a ele [Covid-19]. Faltou, no início, informação e foram disseminadas muitas notícias falsas acarretando em indicações de medicamentos sem eficácia comprovada”, afirma.
Por outro lado, números sobre o uso desses medicamentos já começaram a surgir e mostram que os analgésicos e antitérmicos, como a dipirona, ibuprofeno e paracetamol, foram os medicamentos mais comprados durante a pandemia, com 6,5% das vendas total.
Os dados foram coletados de fevereiro de 2020 a fevereiro de 2021 pela plataforma Farmácias APP, aplicativo de venda online de saúde que contempla todo o varejo farmacêutico, tanto físico quanto digital.
Claudia Vidal explica que a automedicação com analgesicos pode ter um impacto menor no organismo quando comparado ao do antibiótico. “O impacto da automedicação de analgesicos pode ser menor, excepcionalmente, com medicamentos que você habitualmente já utiliza, porque já foi prescrito por um médico e que você já sabe que se tiver um quadro gripal ou dor de cabeça, vai poder usar aquele analgesico. E, no caso de uma febre, usar aquele antitérmico", afirma.
Esse é o caso da dona de casa, a mineira Graziela Soares, de 38 anos, que já se automedicou diversas vezes, por conta de seu quadro clínico, mas percebeu que na pandemia as doses aumentaram. “Eu me automediquei várias vezes na pandemia por medo. Como eu tenho sinusite, qualquer sintoma já acho que é Covid. Fico preocupada e acabo tomando remédio”, conta.
Além dos analgésicos, a ivermectina também foi muito procurada pelos brasileiros na pandemia. De acordo com o Conselho Federal de Farmácia (CFF), o vermífugo teve crescimento de 857% nas vendas, que equivale a mais de 81 milhões de unidades, entre março de 2020 e março de 2021.
“Esse medicamento [ivermectina] é um antiparasitário e não deve ser tomado sem prescrição médica, de forma alguma! Não é um medicamento isento de efeitos colaterais”, alerta Claudia.
As consequências do uso indiscriminado de medicamentos e da automedicação são muitas, e podem ocorrer a longo e médio prazo. Aquele analgesico que curava enxaqueca, por exemplo, pode não fazer mais efeito e até piorar o quadro. Os antitérmicos podem mascarar algo mais grave, como uma infecção. Já os anti-inflamatórios podem sobrecarregar os rins.
Quando se trata de antibióticos, para evitar atitudes que possam fortalecer a resistência microbiana é importante não utilizá-los mais do que o prescrito pelos médicos. Segundo a Sobrasp, apesar de ser necessária uma receita para comprar esse tipo de medicamento, muitas pessoas não utilizam o remédio todo e acabam guardando para usá-lo novamente em outras situações.
“Mesmo medicamentos que estamos habituados a tomar, como medicamentos para febre ou dor no corpo, um analgésico simples ou antitérmico, em algum momento pode dar uma reação adversa, mesmo sendo utilizada a algum tempo e você nunca ter tido aquele evento adverso. Por isso que a automedicação deve ser desestimulada e deve ser sempre orientado que o paciente procure um médico. Às vezes parecem sintomas simples, mas é um sinal de alerta”, finaliza Claudia Vidal.
Para os gestores da área da Saúde, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) disponibiliza o Plano Nacional para a Prevenção e o Controle da Resistência Microbiana nos Serviços de Saúde, criado em 2017 para auxiliar e promover medidas preventivas, de controle e de monitoramento de infecções relacionadas à resistência microbiana no país.
Além disso, a legislação brasileira (MS 2.616/1998) determina que todos os hospitais do Brasil implementem um Programa de Controle de Infecção Hospitalar (PCIH), que é um conjunto de ações desenvolvidas sistematicamente, em vista de reduzir o máxima possível a incidência e a gravidade dessas infecções.
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