Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil

Médicos comentam sobre medicações e interesses farmacêuticos durante a crise da Covid-19

Pandemia movimenta impactos financeiros na indústria farmacêutica

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A indústria farmacêutica cresceu 12,13% em 2020 no Brasil, chegando ao faturamento de R$ 126 bilhões no ano, contra um aumento de 9,25% em 2019. Os dados foram divulgados pelo Sindicato dos Químicos de São Paulo, baseados em uma pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Diesse). 

O varejo farmacêutico também teve crescimento. Estatísticas demonstradas pela Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar), com dados da empresa IQVIA Brasil, mostram um aumento no faturamento de 15,6% em 2020. No ano passado, segundo a pesquisa, as farmácias faturaram R$ 139,37 bilhões, contra R$ 120,54 bilhões em 2019. 

Os números e outras análises do contexto geram debates sobre a indústria farmacêutica. O médico neurocirurgião Paulo Porto de Melo, especialista em Medicina de Urgência e em Clínica Médica, afirmou ao portal Brasil61.com que existem interesses financeiros e lobby no setor. A entrevista completa com Paulo Porto será publicada no Entrevistado da Semana, na próxima sexta-feira (9). 

“O negócio farmacêutico no Brasil, por exemplo, é um negócio de bilhões de reais. Vai interessar para uma indústria que fabrica a vacina que se mostre que existe um tratamento eficaz preventivo e que talvez diminua a pressão pela necessidade de adquirir vacinas a alto preço a qualquer custo? Eu acho que não”, opina.

Paulo descreve a imunização contra a Covid-19 como “fundamental” neste momento, mas diz que “a vacinação é uma das estratégias de medicina preventiva”. “Por exemplo, meningites bacterianas. Quando existe a meningite bacteriana, existe obviamente vacina para meningite bacteriana. Mas se existe um surto, os contactantes devem tomar rifampicina, por exemplo.”

Para a médica Mariana Gonzaga, professora da Faculdade de Farmácia da UFMG e doutora em Ciências da Saúde pela Fiocruz, é preciso analisar de forma crítica o movimento de incentivo ao uso de determinados medicamentos. Segundo ela, há um grande movimento no mercado para venda desses produtos, como acontece com o uso de algumas vitaminas sem comprovação de eficácia. 
 
“É claro que podemos pensar que há interesse econômico no reposicionamento de medicamentos, além do bem que isso poderia trazer para a população. Mas, uma vez em que nós nos encontramos em um momento em que temos ensaios clínicos randomizados para todos esses medicamentos testados, que infelizmente tiveram insucesso, começamos a ter uma prática de prescrição e uso desses medicamentos fora da racionalidade científica, que é muito preocupante.”

Os ensaios clínicos randomizados citados pela farmacêutica são necessários para provar a eficácia de medicamentos contra determinada doença, sendo o mais alto nível de evidência científica. Até o momento, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), não há nenhum remédio comprovadamente eficaz contra a Covid-19 em pacientes desospitalizados, que tenha passado por esses testes.

Quebra de patente

Outra discussão recente sobre medicamentos na pandemia é a quebra de patente de remédios, ou seja, a disponibilização da fórmula em domínio público, para que qualquer laboratório possa produzir o insumo. Há dois projetos de lei em discussão no Senado Federal sobre o tema, os PLs 12/2021 e 1.171/2021.

O PL 12/2021, do senador Paulo Paim (PT-RS), busca a quebra das patentes de vacinas e medicamentos para o enfrentamento do novo coronavírus. O PL 1.171/2021, dos senadores Otto Alencar (PSD-BA), Esperidião Amin (PP-SC) e Kátia Abreu (PP-TO), prevê a licença compulsória do antiviral Remdesivir.

A farmacêutica Mariana Gonzaga lembra que o Brasil já realizou o direito de quebra de patente anteriormente na história, de forma adequada. “Mas, até o momento, não temos medicamentos que justifiquem esse movimento. O Remdesivir se encontra sob patente, mas é um medicamento que tem potencial de eficiência tão elevado, que justificaria a quebra. Não temos redução da mortalidade com o uso desse medicamento, apenas do tempo de internação”, avalia, lembrando que ainda não há estudos contundentes sobre a vantagem econômica caso houvesse a quebra da patente. 

Dados da Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias mostram que a procura por suplementos vitamínicos disparou em 2020, crescendo 47,9% em todo o mercado e 60,9% nas redes associadas à Febrafar. A Ivermectina chegou a apresentar um crescimento de 2.869,11%. 

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