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A Marcha das Margaridas acontece nesta terça (15) e quarta-feira (16) em Brasília, reunindo mais de 100 mil mulheres de todo o Brasil e também de outros países. Organizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag) e 16 instituições parceiras, o evento acontece a cada quatro anos e nessa edição tem o lema “Pela Reconstrução do Brasil e pelo Bem Viver”. A mobilização é considerada a maior ação política de mulheres da América Latina, segundo a Contag.
Nesta quarta (16), o encerramento do evento contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que anunciou algumas medidas como a retomada do Programa Nacional de Reforma Agrária, com prioridade para as mulheres — e um decreto que institui o Pacto Nacional de Prevenção aos Feminicídios, além de outras medidas que atendem parte das reivindicações do movimento.
Em junho deste ano, a pauta da Marcha das Margaridas foi entregue ao governo federal em cerimônia com a participação de 13 ministras e ministros no Palácio do Planalto. Na mesma data foi entregue uma pauta voltada ao Legislativo para o presidente da Câmara dos Deputados, deputado Arthur Lira (PP-AL). As propostas entregues foram organizadas em 13 eixos temáticos, com temas como democracia participativa, poder e participação política das mulheres, vida saudável com agroecologia e segurança alimentar e nutricional, entre outros.
Os amplos eixos temáticos são explicados pela diversidade do campo brasileiro, como explica a secretária de Meio Ambiente da Contag e integrante da Coordenação ampliada da Marcha das Margaridas, Sandra Paula Bonetti. “Nosso campo é bastante diverso. Para algumas regiões a questão da soberania e segurança alimentar é mais importante; outras regiões, por exemplo a região Norte, a questão ambiental é muito mais forte, e assim por diante, outras regiões a questão da renda, então por ser regionalizadas de alguma maneira algumas pautas, a gente acaba tratando de tudo com esses recortes”, ressaltou.
Segundo dados do último Censo Agropecuário, divulgado em 2017, dos mais de 5 milhões de estabelecimentos rurais brasileiros, apenas 947 mil são dirigidos por mulheres, o que equivale a 19% do total. As mulheres dirigem estabelecimentos que juntos somam cerca de 30 milhões de hectares — o que corresponde a 8,5% da área total.
A professora e pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, Nicole Rennó Castro explica que a participação das mulheres como mão de obra no agronegócio tem sido estável nos últimos anos. As condições das mulheres do agro são parecidas com as condições das mulheres no mercado de trabalho de modo geral, com uma rotina que contempla além do trabalho, várias horas dedicadas a atividades de cuidado com os parentes e também com a casa.
A desigualdade salarial no setor também é ressaltada pela pesquisadora. “Mulheres ainda ganham menos que os homens, mesmo se a gente olha para os mesmos cargos e mesmas funções. E novamente isso é uma grande média. Quando a gente olha para o total do Brasil, inteiro, todas as mulheres e todos os homens que estão trabalhando no agronegócio, ainda existe sim essa desigualdade salarial”, afirmou.
A Marcha das Margaridas teve sua primeira edição em 2000, desde então, a cada quatro anos mobiliza mulheres do campo, da floresta e das águas para virem à Brasília para um grande encontro baseado em suas pautas políticas, buscando interlocução com o Estado de modo a consolidar uma agenda articulada.
O nome da marcha é uma homenagem a Margarida Maria Alves, ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba. Ela foi assassinada em agosto de 1983 em resposta a sua luta pelos direitos da categoria. Desde então, tornou-se símbolo da resistência de trabalhadoras e trabalhadores.
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