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Dados do Observatório de Saúde Cardiovascular do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), com base em informações do Datasus (de 2008 a 2023), do Ministério da Saúde, apontam que há um aumento de internações por infarto no inverno. O aumento chega a até 12% no Brasil, em pessoas que apresentam fatores de risco. Já em nível mundial, o índice chega a 30%.
Segundo o cardiologista e coordenador assistencial do INC, órgão do Ministério da Saúde, Alexandre Rouge, a relação do infarto com o inverno pode ser explicada principalmente por dois fatores: o organismo humano trabalha mais para se manter aquecido e, durante o inverno, há aumento das infecções respiratórias – em ambos os casos, há impactos ao coração.
“Então, você tem um aumento dos níveis de hormônios circulantes para poder aumentar a circulação, poder contrair um pouco os vasos e diminuir a perda de temperatura para o ambiente, isso automaticamente leva a um aumento do trabalho cardíaco para poder tentar preservar a temperatura do corpo para as temperaturas muito frias”, ressalta Rouge.
O especialista alerta para aumento das infecções respiratórias durante o inverno, que podem desencadear doenças do coração já existentes.
“Por outro lado, também a gente sabe que no inverno há um aumento das infecções respiratórias, que são um fator que pode descompensar tanto doenças cardíacas pré-existentes, quanto doenças cardíacas isquêmicas, o que levaria a infarto. Mas também, por exemplo, pacientes com insuficiência cardíaca, que poderia levar à descompensação da insuficiência cardíaca nesses pacientes”, aponta Rouge.
O cardiologista Alexandre Rouge destaca que a diferença percentual de internações por doenças cardiovasculares no inverno no Brasil, bem menor em comparação a outros países, é explicada pelo fato do país ser tropical.
“A diferença é estarmos aqui num país tropical, diferente de países do hemisfério norte, onde as temperaturas chegam muito mais baixas no inverno, e com isso, você tem mais aparecimento de infecções respiratórias e mais alterações dessas baixas temperaturas no funcionamento do nosso corpo”, diz Rouge.
Apesar de não ter dados suficientes, ele afirma que é possível apontar que o alto índice vacinal dos brasileiros também pode explicar a diferença percentual entre o Brasil em relação ao mundo. “A gente pode inferir que no Brasil a gente tem campanhas vacinais mais amplas que em vários países do hemisfério norte. Essa boa cobertura vacinal leva a um menor número de infecções respiratórias e, com isso, menos descompensação das doenças cardíacas”, destaca.
O grupo com mais chance de infartar no inverno são as pessoas com doença cardíaca pré-existente, seja isquêmica, insuficiência cardíaca ou doença cardiovascular grave. Rouge aponta ainda aqueles que não estejam vacinados e mais propensos a ter infecções respiratórias e pessoas com fatores de risco descontrolados, como diabetes, pressão arterial fora do alvo e lipídios mais elevados.
“Pessoas que estejam com fatores de risco propensos a aparecimento de doenças cardiovasculares e aí a temperatura ou uma infecção pode funcionar como gatilho para a descompensação dessa doença”, afirma Alexandre Rouge.
A técnica em enfermagem da Estratégia da Família Viva Mais, da Unidade Básica de Saúde (UBS) São Pedro, de Três de Maio (RS), Bianca Jost, já presenciou dezenas de mortes por infarto durante o frio. Ela relaciona o aumento de internações e até de óbitos por infarto no inverno à falta de cuidado dos pacientes com a saúde, apesar dos profissionais alertarem quanto aos riscos.
“Eu afiro a pressão do pessoal antes da consulta. Quando esfria, a pressão do pessoal vai lá nas alturas. Só que parece que eles não dão bola, levam na brincadeira. Hoje em dia o pessoal fala: “ah não, é só tomar um comprimido que ajuda”. Eles não querem se cuidar, mudar a alimentação. Daí a gente fala que essa pressão está alta hoje. E eles mesmos falam, “é por causa do frio”. Eu acho que o tanto tem a ver com isso. O pessoal não se cuida nem um pouco”, avalia Jost.
Dicas para prevenir risco de infarto durante o inverno:
Em relação às vacinas, o cardiologista Alexandre Rouge alerta: “Inclusive gripe, covid e todas as vacinas que vêm antes do período de inverno para que no período de inverno esteja preparado e com menos possibilidade de adquirir infecções respiratórias ou mesmo adquirir infecções respiratórias graves”, pontua.
De acordo com Instituto Nacional de Cardiologia, as baixas temperaturas podem aumentar em até 30% a incidência de Acidente Vascular Cerebral (AVC). O que explica o aumento é que o frio eleva a pressão arterial – um considerável fator de risco para a doença.
O neurocirurgião e especialista em doenças cerebrovasculares, Victor Hugo Espíndola, explica que em temperaturas mais baixas há uma produção de catecolamina no organismo – uma substância que acelera o metabolismo para preservar o calor do corpo. O processo leva à contração dos vasos sanguíneos e eleva a pressão arterial, o que exige mais esforço do coração para bombear o sangue.
“O aumento da pressão é um dos principais fatores de risco para AVC, tanto o isquêmico como hemorrágico. Então, por si só, já é uma justificativa. E a vasoconstrição, quando as artérias estreitam, por exemplo, você já tem uma doença prévia. Uma artéria ali que já tem uma placa de gordura, na hora que ela estreita, o fluxo sanguíneo pode interromper completamente ou pode ficar deficitário e isso daí também é um dos fatores de risco”, salienta Espíndola
O especialista destaca, ainda, que a alimentação durante o inverno também explica a tendência de aumento de incidência de AVC no frio, além da desidratação – já que a tendência é beber menos água no frio. “ Quando está mais frio, as pessoas tendem a comer mais, tendem a usar mais álcool, com o uso abusivo de álcool quando está frio. Desidratação também é uma coisa importante. Normalmente, quando está frio, a gente bebe pouca água, então tem uma chance maior de desidratar. Isso é fator de risco”, diz Espíndola.
Para a neurocirurgia, a prevenção é feita ao longo do tempo e anterior ao inverno, com a adoção e manutenção de hábitos saudáveis ao longo da vida, como praticar atividades físicas, ir regularmente ao médico e evitar o tabagismo e o sedentarismo.
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