Foto: jannoon028/Freepik
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Estudo de acidentes anteriores pode prevenir acidentes aéreos, dizem especialistas

Aeroporto de Barcelos, interior do Amazonas, onde aconteceu a queda de um avião nesse sábado (16), recebe até 30 aeronaves em um único dia

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O acidente que provocou a morte de 14 pessoas na tarde desse sábado (16), em Barcelos, interior do Amazonas, acende um alerta. Na opinião do perito aeronáutico Daniel Celso Calazans, a região amazônica tem uma situação crítica e específica de fenômenos meteorológicos. Ele explica que as características da região precisam ser estudadas e os pilotos tem que estar preparados para esse tipo de evento, que é típico da região.

“O piloto precisa conhecer quais são os momentos, horários do dia daqueles fenômenos, a presença de ventos fortes, muitos deles rajadas. Então, ali o piloto tem que operar e tem que ter uma habilidade porque ele vai operar não em uma situação perigosa, mas em uma situação mais crítica que em outra região. O piloto precisa operar de acordo com este fenômeno. Isso que é muito importante”, avalia.

De acordo com o perito, além de conhecer a região e o clima, é necessário um cuidado especial em relação ao tipo de aeronave. “O piloto precisa conhecer a sua aeronave porque, muitas vezes, o seu avião não está enquadrado. Então muitas aeronaves têm um limite de vento que ela pode suportar. Se o vento, por exemplo, estiver muito forte, o vento de cauda, que é o vento de trás ou o vento de través, que é o vento de lado, podem, dependendo da direção e intensidade, podem, sim, comprometer”, informa.

O governo do Amazonas informou que o avião era de pequeno porte e tinha saído de Manaus com destino a Barcelos. A aeronave transportava turistas brasileiros que estariam indo pescar no Rio Negro. A secretária municipal de Turismo de Barcelos, Patrícia de Araújo Braga, destaca que a região é o principal destino para pesca esportiva no Brasil e um dos mais procurados no planeta. Ela conta que a frequência de voos de setembro a março costuma ser muito maior do que nos outros meses, de baixa temporada.

“Atualmente, a gente tem 63 empresas operadoras de turismo devidamente cadastradas e aptas a receberem turistas para o período da alta temporada de pesca. E na alta temporada também, ele é muito comum que o município receba no aeroporto de Barcelos até 30 aeronaves em um único dia, principalmente nos sábados e domingos”, aponta.

A secretária municipal disse que chovia bastante naquele dia. “No momento do acidente chovia muito na região e a cidade ficou sem energia elétrica e sem sinal de telefonia móvel e internet, o que dificultou muito também a mobilização na hora do resgate. Mas, prontamente, equipes da prefeitura de Barcelos, polícias civil e militar, bem como o Exército Brasileiro, estiveram no apoio do resgate das vítimas nos escombros da aeronave”, relata.

Prevenção de acidentes

Daniel Celso Calazans explica que toda investigação de acidente aeronáutico termina com o relatório final que contém as recomendações para que novos ou outros acidentes sejam evitados, mas ele critica que pouco se aproveita do material. Para ele, uma conscientização dos estudos de acidentes anteriores seria, sim, uma grande ferramenta para evitar acidentes. “Se estas recomendações fossem amplamente e profundamente estudadas em curso de formação e também de especialização de pilotos, eu tenho certeza que nós teríamos aí uma grande ferramenta para diminuir esse número de acidentes”, revela.

O comandante de Boeing 737, especialista em segurança de aviação e aeronavenavegabilidade continuada (ITA), Paulo Licati, vai além. “O que a gente observa é que precisa ter uma mudança de mindset, mudança de mentalidade com relação à segurança de voo. Por exemplo, observar a meteorologia, hoje nós temos aí radares precisos, fotosatélites do que vai acontecer”, ressalta.

O especialista Paulo Licati também acredita que precisa existir uma boa análise com relação à manutenção. “Que se faça a manutenção em oficinas homologadas, acreditadas, buscar treinamento adequado para todas as situações possíveis. Os pilotos também precisam ler muito sobre segurança, sobre acidentes que já ocorreram. Eu creio que esse seja um caminho para diminuir os acidentes”, avalia.
 

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