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Várias regiões do Brasil estão sofrendo neste verão com as fortes chuvas, que causaram desastres na Bahia, em dezembro, Minas Gerais, em janeiro, e agora em Petrópolis, no Rio de Janeiro. São inundações, deslizamentos e demais adversidades que causaram dezenas de mortes e milhares de desabrigados. As pessoas estão assustadas com o alto volume das chuvas e se perguntam se elas já eram esperadas ou se são decorrentes de mudanças climáticas atípicas e eventos isolados que nunca tinham acontecido na região.
Gustavo Lourenço, 39 anos, publicitário, mora no Rio de Janeiro e observa que o verão está bem diferente daquele em que estão acostumados, com céu limpo, sol e calor de 40 graus.
“As chuvas estão cada vez mais fortes e está havendo muito transtorno com a chuva. Em Petrópolis, a gente está vivendo esta tragédia no dia a dia. Realmente o clima do Rio de Janeiro está muito diferente do que vinha sendo ou estava acostumado a ver. A mudança climática está chegando aqui e está afetando bastante toda a população, a cidade e o estado do Rio de Janeiro”, relata.
Mamedes Luiz Melo, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), explica que a percepção da população de que está chovendo como nunca antes é equivocada, uma vez que os fenômenos que causam as fortes chuvas são cíclicos e ocorrem de tempos em tempos, normalmente registrando a mesma quantidade de precipitação.
O mais comum dentre esses fenômenos é a Zona de Convergência do Atlântico Sul, as chamadas ZCAS, uma faixa de nebulosidade que se estende desde o sul da região amazônica até a região central do Atlântico Sul. Ele funciona como um corredor de nuvens que vai da Amazônia ao Sudeste, passando pela região central, concentrando chuvas regulares no verão. E diversos podem ser os fatores locais que favorecem a ocorrência da ZCAS, entre elas o fluxo de ar quente e úmido, e a convergência de umidade.
“Esse fenômeno sempre atua no verão e vai continuar atuando, com maior ou menor intensidade. Ele começa a atuar no finalzinho da primavera, em outubro e novembro, passando por Bahia e Minas Gerais”, explica Mamedes. Segundo o especialista, ainda existem outros fenômenos de grande escala que podem potencializar ou não essas ocorrências, como o La Niña, que é o resfriamento das águas do Pacífico Equatorial e que modifica a situação geral da atmosfera. “Quando o La Niña acontece, ele faz com que a Zona de Convergência do Atlântico Sul se posicione mais para a região Sudeste, influenciando Minas, São Paulo e até o Centro-Oeste. Por isso, toda aquela chuvarada na Bahia e depois em Minas Gerais”, esclarece.
As ZCAS estão entre os principais sistemas meteorológicos responsáveis pela reposição hídrica em várias partes do País neste período do ano. E elas são caracterizadas, particularmente, por chuvas que ficam estacionadas em uma mesma região por horas, às vezes dias, o que provoca enchentes dos rios e deslizamentos de terras, a depender da topografia e da umidade da terra.
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As ZCAS, no entanto, não são o motivo das fortes chuvas no Rio de Janeiro. De acordo com o meteorologista, a precipitação ocorreu por causa de uma combinação da topografia com o ar frio, e da passagem de uma frente fria pelo estado. “Foi uma combinação de bastante umidade com ar quente exatamente sobre a topografia do Rio de Janeiro. Essa foi a causa dessa chuvarada que em duas ou três horas foram mais de 200mm”, explica Mamedes.
O especialista ressalta que sempre que há uma situação como essa, as pessoas dizem que nunca tinha chovido assim antes. Ele afirma que a percepção é equivocada, já que esse grande volume de água é esperado de tempos em tempos e os chamados “desastres naturais” são, muitas vezes, causados por ocupação desordenada.
“Nesses lugares que acontecem essas ‘tragédias naturais’, eu particularmente vejo como uma ocupação desordenada do solo. Será que era para ter alguém morando na vazante de um rio? Na encosta de um morro?”, questiona o especialista.
Mamedes também ressalta que ocorre, de tempos em tempos, um alto volume de chuvas porque a natureza é cíclica. A percepção de tamanho aumenta porque ocorrem muitas inundações e deslizamentos em áreas que não deveriam ser habitadas.
“A gente sabe que na natureza existe um ciclo, que um evento mais forte de chuva a cada dez anos, vinte ou trinta, sempre vai acontecer algo mais intenso. Isso sempre vai ocorrer. E muitas vezes as pessoas ocupam exatamente aquele local que não era para estar ocupado e sempre vai acontecer essa tragédia”, explica. “Se pegar aí 20 a 30 anos atrás, ou até mesmo dez anos atrás, no Rio de Janeiro, aconteceu exatamente o que está acontecendo hoje.”
O estado do Rio de Janeiro sofreu desastre climático semelhante há apenas 11 anos. Em janeiro de 2011, a região serrana foi atingida por fortes chuvas que causaram quase mil mortes, deixando mais de 35 mil pessoas desabrigadas. As enchentes e deslizamentos ocorreram principalmente em Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis e São José do Vale do Rio Preto.
As chuvas que atingiram Petrópolis na tarde de terça-feira registraram aproximadamente uma intensidade de 200 mm/h durante quatro horas. Em 2011, foi registrada uma intensidade máxima de aproximadamente 280 mm durante oito horas de chuva em Nova Friburgo.
Até o fechamento desta matéria, a atual tragédia climática em Petrópolis registrava 152 mortos e 165 pessoas desaparecidas, segundo a Polícia Civil do estado.
As mudanças climáticas no período do verão ocorrem muito por conta dos fenômenos El Niño e La Niña. Enquanto o primeiro se traduz em mais chuvas na região Sul e menos chuvas nas regiões Norte e Nordeste, a La Niña provoca justamente o contrário, com chuvas mais abundantes na Amazônia e no Nordeste, enquanto que na Região Sul as temperaturas sobem e há maior ocorrência de secas.
Segundo o Inmet, os dados apontam que o fenômeno La Niña deve durar todo o primeiro trimestre de 2022. No ano passado, esse mesmo fenômeno foi responsável pela maior cheia na Amazônia nos últimos 120 anos.
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