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A dengue hemorrágica, também chamada de dengue grave, é uma complicação da infecção causada pela dengue. Qualquer sorotipo do vírus da dengue, (DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4) pode causar a dengue hemorrágica. No entanto, no caso do DEN-2 o risco de apresentar essa complicação em uma segunda infecção é maior.
Segundo o infectologista Werciley Júnior, o vírus provoca uma reação inflamatória no corpo humano e altera os padrões de coagulação, provocando hemorragias e perda de líquidos.
“A dengue hemorrágica acontece devido à formação dos anticorpos. Esses anticorpos, em uma segunda infecção da dengue, induz uma resposta inflamatória. Uma resposta do corpo exagerada, que causa a produção de algumas substâncias que vão destruir as plaquetas e alterar a forma de coagulação. Com isso, faz o famoso extravasamento de líquido, ou seja, os vasos dilatam. Desidrata sem perder líquido, ou seja, ela acumula líquido em locais que não deveriam acontecer e evolui então dessa forma com desidratação e alterações da parte coagulação”, explica.
De acordo com o infectologista, pessoas idosas e aquelas que possuem doenças crônicas, como diabete e hipertensão arterial, têm maior risco de evoluir para casos graves e outras complicações que podem levar à morte.
“A dengue pode descompensar as doenças prévias, então automaticamente torna-se uma pessoa mais difícil de cuidar, porque você tem que compensar doenças preexistentes. Então, a doença crônica é um fator de risco, porque há chance de estável para ficar instável é muito grande”, ressalta.
Inicialmente, os sintomas são os mesmos da dengue clássica, como destaca o infectologista.
“Toda dengue começa de uma forma clássica, ou seja, com febre, dor no corpo, a chamada mialgia, artralgia, dor acima dos olhos, aquele cansaço. Evolui para dengue hemorrágica quando ela começa a ter os sinais de alerta, que seria sangramento tanto de gengiva quanto cutâneo, associado a sangramento ocular, sangramentos na urina, com dor abdominal, com aumento do fígado, do baço, que podem ser sinais de rompimento ou de alterações na função dele. E a evolução para desidratação, sangramentos visíveis e acúmulo de líquido onde não deveria”, diz.
A dona de casa Lígia Mara Machado, de 59 anos, do Paraná, teve dengue hemorrágica no fim do mês de janeiro. Ela conta que ficou internada por uma semana devido os sintomas da doença.
“Fiquei basicamente uma semana sem conseguir comer nada. Mal conseguia tomar água, não conseguia comer. Passei muito mal. Meu corpo doía demais. Dores terríveis nos olhos, na cabeça, no corpo. Meus olhos estavam bem vermelhos. Eu tive muito sangramento na boca. Passei por dois médicos e o segundo médico mandou me internar no hospital porque disse que eu estava com meu fígado muito traumatizado — e não tinha outra maneira que de me tratar sem atendimento médico especializado”, relata.
De acordo com o infectologista Werciley Junior, o diagnóstico e o tratamento precoce da dengue são fundamentais para uma recuperação mais rápida e para evitar complicações graves.
“Suspeitou de dengue, faça exames confirmando. O tratamento inicial é com um remédio bom e barato chamado hidratação. Então, se hidratar. Se não consegue se hidratar, tem náusea, vômitos, tem diarreia, não consegue se alimentar, aí, sim, fazer hidratação venosa e medicações sintomáticas. Quando você evolui para sangramento, você pode usar medidas para tentar controlar o sangramento. O diagnóstico rápido com hidratação adequada é o que evita a dengue evoluir para uma forma mais grave”, completa.
Segundo estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2023, o Brasil registrou cerca de 1.474 são de dengue grave a dengue hemorrágica. O país é o segundo na América Latina com o maior número de casos mais graves, ficando somente atrás da Colômbia, com 1.504 casos.
Conforme o Ministério da Saúde, o Brasil já registrou 555.583 casos prováveis da doença neste ano. Foram confirmadas 90 mortes pela doença e mais 381 estão sob investigação.
Os estados que apresentam mais casos prováveis da doença são Minas Gerais, (181.123 casos prováveis), São Paulo, (86.863), Distrito Federal, (66.538) e Paraná, com (57.508 casos prováveis de dengue). A incidência da doença é maior em Distrito Federal, Minas Gerais, Goiás e no Acre, estados que já declararam situação de emergência para a dengue.
Para o controle da dengue, o infectologista destaca que são necessárias diversas ações em várias frentes, inclusive com a vacinação.
“O controle da dengue você pode ter ações do ponto de vista coletivo, que é tentar reduzir a população de mosquito, que pode ser com fumacê, evitar os criatórios. Temos a parte de prevenção, com uso de repelente e da vacina. A vacina acaba sendo uma maneira de prevenir, mas vacinar no meio do surto a gente vai ter pouco impacto. A partir do próximo ano, sim, a gente observará um impacto da vacina na quantidade de infecções”, completa.
A vacinação contra a dengue para crianças entre 10 a 11 anos já iniciou em Goiás, Bahia, Maranhão, São Paulo, Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal. Segundo o Ministério da Saúde, todos os estados selecionados devem receber as primeiras remessas da vacina até a primeira quinzena de março.
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