Foto:  Tânia Rêgo - Agência Brasil
Foto: Tânia Rêgo - Agência Brasil

Crea-RJ defende projeto de habitação popular após tragédia em Petrópolis

Moradores relatam “cenário de guerra” na cidade, que foi atingida por um forte temporal na terça-feira (15). As chuvas são as piores que já afetaram a região serrana do estado do Rio de Janeiro desde 1932.

SalvarSalvar imagemTextoTexto para rádio

O presidente do Conselho Regional de Engenharia (Crea-RJ), Luiz Cosenza, defendeu a adoção de um projeto nacional de habitação popular. A fala vem depois da tragédia na cidade de Petrópolis (RJ), onde ao menos 105 pessoas morreram, segundo os últimos dados liberados pela Defesa Civil Estadual. O encontro ainda não tem data marcada. 

De acordo  com Consenza, a ideia é promover um encontro, com a presença de governos municipais e especialistas. “Pretendemos fazer um grande debate em Petrópolis, junto com a Prefeitura de Petrópolis, com a participação de especialistas das áreas de engenharia civil, geologia, para discutirmos soluções urgentes sobre a questão da moradia. Para isso, é necessária a presença de representantes do Governo Federal. É preciso fazer um grande projeto de habitação popular”, explica o presidente do Crea. 

O projeto, que vai ser discutido, busca um planejamento urbano,  a fim de evitar novas tragédias nos morros e encostas, não só na Cidade Imperial, mas em toda a Região Serrana.

O órgão também pretende inserir outras prefeituras no debate e trazer para a conversa a população, inclusive moradores das áreas de risco e moradores de rua que não têm condições de moradia.

“Cenário de filme de terror”

Moradora da cidade de Petrópolis, Mariana Seixas tem 22 anos e é auxiliar de educação infantil. Ela conta que há muitos anos não acontecia uma catástrofe como essa, mas que diferentemente das outras vezes, o centro da cidade foi bastante atingido. “Ontem, estava parecendo um filme de terror, muitos corpos no chão foram trazidos pela correnteza. Muita gente desabrigada, muita gente em ponto de apoio e como se não bastasse tudo isso, a cidade registrou vários arrastões” relata. 

Os bombeiros conseguiram resgatar 24 pessoas até a noite desta quarta-feira (16), mas ainda restam desaparecidos. Segundo a Polícia Civil do Estado,  haviam 134 pessoas desaparecidas depois do temporal, até a manhã desta quinta (17). O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) preparou uma lista com nomes de mais de 30 desaparecidos.

As autoridades trabalham para tentar localizar possíveis soterrados e no cruzamento de dados com os corpos no Instituto Médico Legal (IML). Cerca de 200 profissionais entre peritos legistas, técnicos e auxiliares de necropsia, servidores de cartório foram mobilizados para agilizar a identificação dos corpos. Até a manhã desta quinta (17), 33 vítimas da tragédia foram identificadas. 

A empresária de 31 anos, Luana Neves Aguiar, mora em um prédio no bairro Corrêas e conta que o cenário é devastador. “ A verdade é que nem a gente que tá aqui vivendo tudo isso, vendo as pessoas morrendo, recebendo notícias horríveis, nem a gente tem a dimensão disso tudo. A gente não tem noção de quantas famílias foram destruídas. As pessoas perderam tudo.”

Mais de 20 pontos de deslizamento foram registrados em toda a cidade. De acordo com as últimas informações, 372 pessoas tiveram que deixar suas casas e estão em abrigos ou em casas de parentes. 

Forças Armadas

Em uma publicação no Diário Oficial desta quinta-feira (17), o governo autorizou o envio das forças armadas para a cidade. Segundo o texto, o Exército “empregue os recursos operacionais necessários para atuar em apoio à Defesa Civil, em coordenação com os órgãos municipais, estaduais e federais, a fim de contribuir para a mitigação dos efeitos das chuvas na região”. Já a Marinha e Aeronáutica devem permanecer em “em condições de disponibilizar recursos operacionais e logísticos ao Comando Conjunto ativado”.

Em visita à cidade, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que a pasta já enviou equipes da vigilância em saúde, da Força Nacional e da atenção primária para oferecer o suporte necessário na ajuda daqueles que estão desabrigados e desalojados. “Nós sabemos que, em uma situação como essa, os problemas de saúde vêm - diarréias agudas, muitos problemas - e que precisamos estar juntos para dar o suporte devido à população de Petrópolis.”

Voluntários

Em meio a tanta tragédia, surgem histórias de pessoas que estão dispostas a ajudar o próximo. Ana Vitória Maia é  vice-presidente do projeto Aloha , que está distribuindo marmitas e água potável aos moradores da cidade. Ana é moradora na região desde 2019 e conta que o cenário é devastador. "É muito difícil pra gente que tá acostumado a passar por esses locais todo dia, locais de trabalho, ver isso tudo. A nossa cidade está debaixo da lama, muito triste.”

A base do projeto é localizada na Pescaria Imperial, no centro da cidade, que foi bastante atingida. Para ajudar a iniciativa, basta entrar no perfil do Instagram @projeto.aloha. Ana afirma que qualquer doação é bem-vinda. “Não importa onde você esteja, não importa o estado que você more qualquer doação , R$ 1, R$ 2, R$ 5, o que você puder mandar de alimento vai ajudar muito”, ressalta.

Alerta de chuva 

A Defesa Civil emitiu na manhã desta quinta-feira (17), aviso de previsão de chuva forte, para os períodos da tarde e noite. A Prefeitura mantém orientação para que as pessoas, que não estão em área de risco, evitem sair de suas casas.

Em caso de chuva forte, as pessoas que estiverem em área de risco, devem se deslocar para locais seguros, como os pontos de apoio. O município mantém 33 escolas abertas para o acolhimento da população.

Novos alertas podem ser emitidos a qualquer momento, a Defesa Civil orienta que a população fique atenta aos avisos e siga as orientações de segurança. Em caso de emergência, as pessoas devem ligar para o 193 (Corpo de Bombeiros) e 199 (Defesa Civil).
 

Receba nossos conteúdos em primeira mão.