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O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) encerrou no final de setembro o prazo para pedidos de registro de candidatura para as eleições municipais de 2020, previstas para 15 e 29 de novembro deste ano. Ao todo, 532.871 pessoas se candidataram aos cargos de prefeito/a e vereador/a nos mais de cinco mil municípios brasileiros. Desse total, apenas 585, ou 0,1% do total, são candidatos/as da comunidade LGBTI+.
O levantamento é do Programa Voto com Orgulho, da Aliança Nacional LGBTI+, uma organização da sociedade civil, pluripartidária e sem fins lucrativos. Do total de pessoas candidatas da comunidade aos cargos públicos neste ano, 46,8% (274) de gays; 12,6% (74) são lésbicas; 11,6% (69) são mulheres trans; 4,8% (28) são bissexuais masculinos; e o restante das demais identidades de gênero e orientações sexuais. Para o posto de vereador/a, são 569 concorrentes e para prefeito/a, 15.
Para o coordenador do Programa Voto com Orgulho e diretor de Políticas Públicas da Aliança Nacional LGBTI+, Cláudio Nascimento, o grande desafio é transformar as candidaturas da comunidade em resultado positivo no pleito deste ano. “O resultado é o desafio para garantir que consigamos, além da representatividade no processo eleitoral, obter representatividade no número de pessoas eleitas. Isso encontramos um pouco mais de dificuldade porque tem a ver com a questão de estrutura e recursos nos próprios partidos. Mesmo os mais progressistas, que em geral tem uma postura mais aberta para debate para diversidade LGBT, você encontra dificuldade para financiamento e apoio a essas candidaturas”, diz.
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Por outro lado, Nascimento chama atenção para o avanço da consciência da comunidade LGBTI+ diante da importância do voto e de investir em candidaturas da comunidade ou aliadas da causa. “É muito interessante a participação nesse ano de um grande número de candidatos LGBTI+, especialmente de candidatas trans. Temos quase um terço de candidatas trans e isso é um dado positivo, levando em consideração que homens e mulheres trans são alvos muito perseguidos por setores conservadores e fundamentalistas”, completa.
Entre os estados, São Paulo é a unidade da Federação que tem o maior número de candidaturas LGBTI+ (142), seguido por Rio de Janeiro (62), Bahia (58), Minas Gerais (53), Paraná (43) e Rio Grande do Sul (40). Os estados que menos registraram candidaturas da comunidade são o Piauí (3), Tocantins (2) e Amapá (1).
Uma das mulheres trans que registrou candidatura no TSE é Gilmara Cunha, candidata do PT ao cargo de vereadora pelo Rio de Janeiro. Moradora de uma favela, Gilmara conta que a candidatura dela surgiu da proposta de dar voz à comunidade LGBTI+, negros e pobres dentro do espaço de poder.
“Minha candidatura nasce pensando em um novo formato de política pública que chegue de fato na base e comece a construir uma cidade íntegra, não uma cidade partida e excludente. A gente quer da favela para o asfalto e não do asfalto para a favela. Muitos candidatos nos procuram nas eleições e pedem voto. Quando vai para esse espaço, não é para nós que vai legislar, e sim, para uma classe média que já vive de privilégio”, diz.
Gilmara vê com bons olhos o número de candidatas trans no pleito de 2020, mas faz uma ressalva. “Por que essas trans não são a maioria para pleitear esses espaços? Porque elas não se sentem parte dessa constituição. A população de travestis e transexuais é excluída desde quando nasce. Esse corpo já marcado pela violência e opressão. Acredito que não é uma questão de maioria de representatividade, é uma questão de necessidade. Nós precisamos estar nesse lugar de decisão. A transformação do Brasil vai se dar através de mulheres negras, pobre, faveladas e trans”, pontua.
Em Goiânia, o policial rodoviário federal, Fabrício Rosa, é candidato a vereador na cidade e atua no RENOSP, a Rede Nacional de Operadores de Segurança Pública LGBTI+. A rede atua na LGBTfobia dentro das instituições de segurança pública.
Candidato nas eleições pela terceira vez, Fabrício ressalta a importância da ocupação da LGBTI+ em espaços de poder, em especial dentro do Parlamento brasileiro. “Se existe um grupo que é sub-representado, é a nossa comunidade da diversidade. É muito importante que a gente assuma esses lugares de poder. Não é possível que a gente perpetue a democracia do capital, a democracia do dinheiro, onde os mesmos homens brancos, cis e héteros fiquem no poder. Precisamos ocupar todos os lugares, especialmente no Parlamento, federal, estadual e neste ano, municipais. Coloque um LGBTI+ no poder. Vote contra a homofobia”, ressalta.
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