Wilson Dias/Agência Brasil
Wilson Dias/Agência Brasil

Cemitérios estimam aumento de até 60% de enterros com agravamento da pandemia

Dados são da Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (Abredif), que recomendou às funerárias de todo o país para suspender férias de funcionários

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“Agora chegou em um ponto em que não tem mais onde enterrar ninguém”, conta Raimundo Ercílio Moreira, presidente da Associação Filantrópica do Cemitério Santa Rita (Aficesari), em Crateús (CE). A situação do cemitério do município cearense é semelhante em diversos pontos do Brasil. Com o agravamento da pandemia e a quebra constante de recordes de mortes em decorrência da Covid-19, o setor funerário teme o futuro.

A associação do cemitério Santa Rita chegou a emitir uma nota informando que o local está “praticamente impossibilitado de receber corpos de quem não possui cova ou túmulo”. Raimundo conta que ligou sinais de alerta logo no começo da pandemia, mas que agora o cenário chegou ao limite.

“Há mais ou menos um ano a gente vem avisando a prefeitura e aos órgãos de que o cemitério estava ficando pequeno, mas nunca ninguém ligou. Mas agora, temos em média dez sepultamentos por dia e noite, até de madrugada está sendo enterrada gente”, lamenta. 

O Brasil é o país com mais mortes diárias pelo novo coronavírus no mundo. Na última semana, entre segunda-feira (22) e terça-feira (23), 3.251 vidas foram perdidas na pandemia, o recorde em 24 horas, segundo dados do Ministério da Saúde. Como as previsões de pesquisadores para as próximas semanas não são boas, o cemitério Santa Rita, único no município, deve ampliar o terreno. “É a primeira vez que isso acontece em 20 anos de cemitério”, diz Raimundo.

Aumento 

Lourival Panhozzi, presidente da Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (Abredif), avalia o momento atual como preocupante e pensa estratégias para afastar as possibilidades de um novo colapso no país, como já acontece com as ocupações de unidades de tratamento intensivo (UTIs), de acordo com especialistas.

“As nossas estimativas e os dados dos cientistas apontam que, para os próximos três meses, teremos algo em torno de 500 mil óbitos no Brasil. Esse ano, agora no mês de março, nós já estamos experimentando um aumento de 30% do total absoluto [de enterros], o que é um aumento absurdo, totalmente fora de qualquer previsão. É possível, sim, que nós alcancemos até 50%, 60% de aumento real em algumas localidades, momentos e regiões”, avalia Lourival.

O presidente da associação, no entanto, ressalta que embora possa haver dificuldade de diferentes cemitérios de algumas regiões, o setor funerário como um todo no Brasil está acompanhando as demandas. 

“Os números sinalizam um crescimento vertiginoso e constante de mortes que nos preocupa muito. Mas os fabricantes colocaram nesse período 400 mil urnas no mercado e já temos mais de 100 mil urnas em estoque”, enumera.

A associação chegou a recomendar às funerárias de todo o país para suspender férias de funcionários. Outra estratégia pensada foi colocada em prática recentemente. 

“É um sistema em que todos os cemitérios do Brasil vão se cadastrar para colocar a disponibilidade de jazigos e a capacidade de sepultamento dia/hora, para que as funerárias façam agendamentos e só levem [o corpo] para o cemitério na hora que o jazigo tiver liberado.”

Segundo Lourival, o sistema só será acessado pelos representantes do setor e não será aberto para a imprensa. A entidade representa mais de 13 mil empresas no Brasil. 

Estatísticas

Na última quinta-feira (25) o país registrou mais uma estatística preocupante, quando, pela primeira vez, ultrapassou a marca dos 100 mil casos confirmados de infecções em um intervalo de 24 horas. De acordo com o Ministério da Saúde, houve 100.158 diagnósticos positivos para a doença. 

Ao todo, 303 mil corpos de vítimas da Covid-19 foram enterrados no Brasil. O país tem mais mortes no mundo acumuladas nos últimos sete dias, proporcionalmente, a cada 100 milhões de habitantes. Os estados de Amazonas, Roraima, Rondônia, Rio de Janeiro e Mato Grosso são, respectivamente, os que possuem as maiores taxas de mortalidade por 100 mil pessoas.

A situação do Rio Grande do Sul também preocupa autoridades. A região é a segunda com maior média de mortes na semana, também proporcionalmente, atrás apenas de Rondônia. 

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