Data de publicação: 22 de Agosto de 2019, 15:14h, Atualizado em: 01 de Agosto de 2024, 19:30h
Ao final da primeira cena de “Pacarrete”, o público vibrou e aplaudiu a beleza da atuação de Marcélia Cartaxo. O filme, que teve sua primeira exibição nesta terça-feira (20), no Festival de Cinema de Gramado, arrancou risadas da plateia, gritos de elogios e muito choro coletivo.
“Pacarrete” é um filme que retrata a vida de uma senhora cearense moradora do município de Russas, que realmente existiu. A figura caricata conquista o público logo de primeira. Tudo gira em torno do desejo da mulher de presentear a cidade em seu aniversário de 200 anos, com uma apresentação de ballet, mas que encontra muita dificuldade ao dialogar com a Secretaria de Cultura.
Esse é o primeiro longa-metragem do diretor Allan Deberton, que estreou o formato já dando o que falar. Isso porque a película está entre as favoritas para o prêmio de melhor filme, melhor atriz e melhor diretor. Allan, que é natural de Russas, conviveu ainda criança com a musa inspiradora da trama.
Marcélia Cartaxo ficou conhecida por sua atuação em “A Hora da Estrela” (1985), dando vida ao romance de Clarice Lispector, e também já contracenou com Lázaro Ramos no filme Madame Satã (2002). Dessa vez, em toda sua glória, a atriz incorpora uma cearense arretada no sotaque, com falas em francês que fazem o público se derreter.
A atuação de Marcélia é fantástica, sem medo de errar, tropeçar ou fazer feio. Ela tem uma coragem, força e transmite sentimentos verdadeiros por sua personagem. Além disso, contracena com o ator João Miguel (3%) em sintonia. Os dois amigos têm uma relação aconchegante, o que impulsionou o carinho da plateia pela trama.
Há uma forte ligação também entre o “trio parada dura”. Ao lado Marcélia, Zezita Matos e Soia Lira são mulheres fortes e representam as figuras firmes do filme. É lindo ver a interação entre essas mulheres que encarnam tão bem a mulher brasileira, nordestina. Fortes, carinhosas, sem medo e muito prestativas.
Tecnicamente falando, também é importante pensar sobre a trilha sonora do filme. A experiência é de imersão em um longa nacional, cearense, que não incomoda quando coloca músicas em francês na trilha sonora. Principalmente porque são canções que são diretamente relacionadas à personalidade de Pacarrete.
Em um tempo em que a questão do cortes de verbas para o audiovisual está em pauta, o filme faz uma menção sutil à censura. Quando Pacarrete, no interior do Ceará, quer presentear a cidade com seu ballet e não recebe apoio do município, isso só reforça como as preocupações da Secretaria de Cultura são outras.
O longa tem previsão de estreia nos cinemas do Brasil para março de 2020 e já promete grande repercussão.