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Janeiro chega ao fim com a data dedicada à conscientização de uma doença histórica que ainda preocupa secretarias de saúde do País. O Dia Mundial de Combate à Hanseníase é lembrado em todo último domingo do mês, levando reflexões sobre essa doença que registra cerca de 30 mil novos casos por ano no Brasil. Apesar de ser conhecida há séculos, a hanseníase é um desafio de várias cidades. Entre os 10 municípios com maior incidência de casos, todos são do Centro-Oeste, sendo nove do Mato Grosso e um de Goiás. Ribeirãozinho (MT) puxa a lista de taxa da doença, com 5,36 casos a cada mil habitantes, segundo dados do Datasus, do Ministério da Saúde.
No Brasil, as regiões consideradas como hiperendêmicas são o Centro-Oeste, Norte e Nordeste, que correspondem a quase 85% dos casos do País, segundo a Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM). Os 15 municípios com mais casos são Ribeirãozinho (MT), Itaúba (MT), Campos Verdes (GO), Nova Santa Helena (MT), Juína (MT), Cláudia (MT), Ponte Branca (MT), Querência (MT), Marcelândia (MT), Peixoto de Azevedo (MT), Pedro Gomes (MS), Água Boa (MT), São Valério (TO), Guarantã do Norte (MT) e Araguaiana (MT).
Confira os números de casos nos municípios
Infectocontagiosa, a hanseníase é causada por uma bactéria e pode provocar, entre os sintomas mais comuns, alterações na pele, como manchas brancas, avermelhadas ou escurecidas. A doença é causada pela bactéria Mycobacterium Leprae. A maior parte da população tem imunidade e resistência a ela, porém, os casos do País ligam alertas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 93% dos casos de hanseníase do continente Sul-Americano são do Brasil. Sandra Durães, coordenadora do departamento de Hanseníase da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), explica que algumas características devem ser consideradas como um sinal amarelo para a infecção.
“A bactéria da hanseníase tem uma afinidade especial pela pele e pelos nervos periféricos. Na pele, ela vai se apresentar com manchas que podem ser brancas, rosas, vermelhas, pode surgir caroços na pele, infiltrações, que são áreas vermelhas elevadas, e essas lesões possuem a característica fundamental de apresentarem alguma alteração da sensibilidade”, explica a especialista.
Quem identifica alguns desses sintomas deve observar o tipo de alteração que encontra. Médica dermatologista pela SBD, Wanessa Simão pontua que o paciente que apresentar algum tipo dessas manchas deve procurar atendimento médico. “A principal suspeita são aquelas manchas dormentes, com algum grau de perda de sensibilidade tátil ou dolorosa, e aquelas manchas que vão e voltam, nunca desaparecem. O esquema de tratamento vai depender se o paciente é paucibacilar, apresente poucos bacilos na pele, nas lesões, ou multibacilar, com muitos bacilos”, comenta.
A hanseníase pode ser transmitida por contato com gotículas de saliva de alguém doente com uma pessoa de convivência muito próxima e prolongada, mas há um tratamento medicamentoso fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Na primeira dose dos medicamentos já é possível eliminar mais de 90% da capacidade de transmissão. Os remédios dependem do tipo de espectro da enfermidade.
Os paucibacilares, ou seja, que têm boa resistência à doença e poucas lesões, são tratados com uma associação de medicamentos chamada Poliquimioterapia, durante cerca de seis meses. Já aqueles com casos mais graves podem realizar o tratamento entre um e dois anos. Os médicos destacam que o isolamento compulsório chegou a ser realizado no século passado, quando não havia tratamento clínico, mas isso não é mais utilizado.
Isabela Goulart, diretora Científica da Sociedade Brasileira de Hansenologia e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), diz que aquelas ações ainda geram muito preconceito. “Isolar essas pessoas foi a alternativa encontrada pelo governo, e houve a construção de vários sanatórios ou, na época, ditos ‘leprosários’. Essas consequências nós pagamos até hoje, desse isolamento compulsório, porque têm ex-pacientes e familiares ainda na comunidade. E, para isso, em 1995, tivemos uma lei que proibiu o nome lepra para designar a doença.
Esse preconceito é enfrentado até hoje. Francisca Barros da Silva, moradora do Paraná, conta que chegou a ser demitida de empregos por conta da enfermidade, e passou por diversas batalhas ao longo da vida. “Descobri a doença aos nove anos, mas só fui tratada corretamente aos 21. O atendimento era muito difícil, porque eu morava no seringal, no Amazonas, onde nasci. Só fui conseguir tratamento quando estava em Curitiba e acabei engravidando de um abuso e ficando sem resistência. A hanseníase reativou, eu procurei o médico, fui diagnosticada e encaminhada para o antigo leprosário.”
Francisca teve sequelas nas mãos e perdeu os dedos dos pés por conta da doença. Hoje em dia, ela faz trabalhos voluntários em associações de pessoas que sofreram com a hanseníase, para educar e conscientizar. “Sofro de preconceito até hoje, porque, na visão das pessoas, a gente devia ficar no fundo da cama esperando esmola. A gente morre para a sociedade quando vai para um leprosário e quando sai também. Somos excluídos até da família. Mas meu trabalho é fazer com que a sociedade nos aceite e com que nós nos aceitamos para conviver em sociedade”.
Ela lembra ainda que a hanseníase é infectocontagiosa, mas atualmente é fácil de curar. “Se a pessoa não procurar atendimento, o próximo paciente vai estar dentro da casa dela. O foco do janeiro roxo é fazer com que as pessoas se conscientizem de que tem cura”, diz.
A médica hansenologista Laila de Laguiche, fundadora e presidente do Instituto Aliança Contra Hanseníase, diz que o desafio no País é amplo. “A hanseníase merece atenção psicológica, de reabilitação, atendimento clínico, algumas vezes cirúrgico. É preciso ter participação dos pacientes e da comunidade e conscientização dos agentes de saúde. Isso tem que funcionar como forma de engrenagem. Há cerca de dois anos, Mato Grosso inovou com uma Secretaria de Doenças Crônicas”, citou.
Em nota, a Secretaria de Saúde do Estado de Mato Grosso, região com maior número de casos nos municípios, afirmou que desenvolveu “diversas ações intersetoriais” nos últimos 20 anos, realizando uma “busca incessante por casos novos e pelo diagnóstico precoce da hanseníase”. A pasta citou ainda ações realizadas entre 2018 e 2020, por meio da execução do plano estadual estratégico de enfrentamento da hanseníase.
“Mato Grosso executou: capacitação de profissionais do SUS para o diagnóstico precoce, com mais de 1.800 profissionais distribuídos nas 16 regiões de saúde do Estado; 2.749 atendimentos de saúde realizados pelos municípios em parceria com a Novartis, Roda Hans e Carreta Hanseníase, resultando no diagnóstico de 309 novos casos de hanseníase em adultos e 10 novos casos em menores de 15 anos; implantação de seis ambulatórios de atenção especializados regionalizados em hanseníase (AAER); oferta de serviços de teleconsultorias e teleducação por meio do telessaúde MT”, exemplificou a secretaria.
As melhores formas de prevenção da doença são o diagnóstico precoce, o tratamento correto e a investigação de contatos que convivem ou conviveram de forma prolongada com pacientes acometidos. O último domingo do mês de janeiro é o Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase desde a Lei nº 12.135, de 2009.
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