LOC: O governo federal anunciou que vai “zerar” as dívidas do programa de moradia popular Minha Casa Minha Vida, para quem recebe Bolsa Família ou está incluído no Benefício Prestação Continuada (BPC). Agora, as pessoas nesta faixa de renda estão desobrigadas de pagar as prestações dos imóveis adquiridos pelo programa, conforme portaria publicada na última quinta-feira (28), no Diário Oficial da União, pelo Ministério das Cidades.
O portal Brasil 61 ouviu especialistas em economia e contas públicas sobre eventuais impactos que esta medida poderá resultar nas contas da União e, também, para saber se o perdão dessas dívidas como estas não seria uma injustiça com as famílias de baixa renda que não estão incluídas nos programas sociais do governo, exatamente, por estarem trabalhando neste momento.
Para o professor de Economia da FGV, Renan Gomes De Pieri, a medida pode causar um problema que os especialistas chamam de 'economia de perigo moral’, que acontece quando as pessoas que não foram incluídas na anistia se sentem desmotivadas a pagar as prestações de sua casa em dia, confiando que outros perdões de dívida virão no futuro e talvez elas também sejam beneficiadas.
SONORA: Renan Gomes De Pieri, professor de Economia da FGV
“A medida pode criar um problema que a gente chama de ‘economia de perigo moral’, que é o fato de futuros beneficiários do programa já esperarem esse tipo de isenção no futuro, e isso pode diminuir o percentual de pessoas que pagam financiamento em dia. Será que faz sentido a gente colocar recurso público para financiamento de novas casas para a população pobre, sendo que têm outras demandas que essa população tem, que poderiam contribuir mais para que elas aumentassem sua renda no futuro, e conseguissem arcar com os custos do financiamento? Digo: programas de microcrédito, focado na produção... Programas de treinamento, requalificação... Será que não seriam mais efetivos do que estes programas de financiamento de imóveis??”
LOC: O professor licenciado da UnB Newton Marques entende que o perdão de dívidas do Minha Casa, Minha Vida para quem está no Bolsa Família e no BPC vai resultar num impacto fiscal considerável, tanto para o governo quanto para a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, que são parceiros nestes financiamentos. Além disso, o economista aposentado do Banco Central observa que as pessoas de baixa renda que não estão se beneficiando deste perdão de dívidas poderão se sentir injustiçadas.
SONORA: Newton Marques, professor licenciado da UnB,
“É claro que isso vai ter um impacto relevante, porque são milhões de reais que deveriam entrar na conta do governo. E quem tem os agentes financeiros, como a Caixa Econômica e o Banco do Brasil, também o governo vai ter que transferir recursos para essas empresas, essas entidades. Então, não é uma coisa tão fácil. As pessoas que vivem de baixa renda e que estão... Não atingiram esses programas, que não se beneficiaram com estes programas, acabam querendo também um tratamento parecido, mas o governo não tem recurso suficiente para fazer com que tenham esse tipo de benefício."
LOC: O portal Brasil 61 entrou em contato por telefone com a Secretaria de Comunicação da Presidência da República, com o objetivo de dar oportunidade ao governo federal de esclarecer o assunto, acrescentando mais informações e também, para saber se há algum planejamento de incluir, na anistia, as famílias de baixa renda que não participam desta faixa social (do Bolsa Família e do BPC), mas não obteve retorno.
Reportagem: José Roberto Azambuja