Data de publicação: 31 de Dezembro de 2018, 13:00h, Atualizado em: 17 de Julho de 2020, 18:32h
Você já deve ter ouvido um tio ou mesmo sua avó dizendo: “Come direito, menino, senão vai ficar fraco e ter anemia! ”. No entanto, a grande maioria das anemias – sim, existe mais de um tipo – não têm nenhuma relação com a quantidade ou mesmo com a qualidade da comida ingerida. No Saúde em Série deste mês, vamos entender o que está por trás das anemias e como fazer para identificar ou até mesmo prevenir a doença.
Classificando de forma simples, as anemias estão divididas em três grupos: as carenciais, as hemolíticas e aquelas associadas a inflamações ou doenças crônicas. Em todos os casos, os sintomas mais comuns são fraqueza e sonolência. Já o tratamento vai depender da classificação. Pode se reposição de ferro, ou até de vitaminas. Mas vamos explicar tudo isso com calma.
No episódio de hoje, vamos falar do primeiro grupo: anemias carenciais. Para isso, convidamos a hematologista Flávia Xavier. Doutora Flávia, muitas pessoas que falam de anemia acham que isso está diretamente relacionado à alimentação: “O que eu como ou deixo de comer pode me dar anemia”. Esse pensamento está correto?
“Mais ou menos. Se a gente tem uma dieta pobre em ácido fólico, pobre em vitamina B12 ou pobre em ferro você estaria realmente suscetível a ter essas anemias carenciais. No caso da falta de ferro, a principal causa no mundo não é comer pouco. A principal causa no mundo é a causa menstrual. Então nas mulheres, idade jovem – principalmente quando associa com gestação, amamentação que são estados que consomem mais ferro também, essas mulheres tendem a fazer anemia. Então a principal causa é por perda menstrual”.
Então estão em risco apenas mulheres jovens ou existem outros grupos que podem sofrer com a carência do ferro?
“Então como disse, a anemia ferropriva, a principal causa é causa menstrual em mulher jovem. Outras situações por exemplo, criança que está tendo estirão de crescimento e as vezes não come direito. Lembrar das verminoses. Mas o que eu quero destacar mesmo é a anemia por falta de ferro nas pessoas mais velhas – em homem ou mulher em menopausa. Homem e mulher em menopausa não têm motivo para ter falta de ferro. Então, quando essa situação acontece é importante a gente destacar doenças por falta de absorção, por exemplo uma doença celíaca. O H. Pilori – que é aquela bactéria que gosta de ficar no estômago e também atrapalha a absorção do ferro, mas principalmente perdas ocultas. Então principalmente neoplasias que levam a sangramento oculto e que o primeiro sinal poderia ser falta de ferro. Isso nessas pessoas que não têm um motivo para perder ferro”.
Mas não é só pela falta de ferro que existem as anemias carenciais. Elas podem estar relacionadas à falta de vitamina B12 e ácido fólico, que junto com o ferro, fazem parte do combustível necessário para que a medula óssea produza as células do sangue, conhecidas como hemácias ou eritrócitos. Isso mesmo, doutora Flávia?
“Tanto a anemia por falta de B12 quanto por ácido fólico, elas fazem com que a hemácia fique maior, fique grande e atrapalha a formação do DNA dessas células. A causa principal de falta de ácido fólico aí sim seria a dieta. A gente tem um estoque curto – em torno de 3 meses. E no caso da B12, vem principalmente de alimentos animais – então quem é vegetariano estrito pode ter deficiência de B12. Quem tem alterações do estômago – principalmente dessa parte das células parietais ou cirurgia bariátrica por exclusão também pode ter deficiência de B12. Então você vê que nem toda anemia você trata repondo o ferro. E nem em toda anemia que você repõe o ferro ele é absorvido. Então, tem que saber também se não é um déficit de absorção”.
É justamente dos defeitos da absorção do ferro e vitamina B12 que falaremos no próximo episódio. Fique ligado!