EDUCAÇÃO: Professora de história processa orientadora de mestrado por perseguição ideológica

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LOC.: Uma professora de história, ex-aluna de mestrado da Universidade do Estado de Santa Catarina, em Florianópolis, busca na justiça uma indenização de mais de R$ 17 mil reais por entender ter sido discriminada pela própria orientadora, por conta de convicções políticas, morais e religiosas.
Professora em escolas públicas de Chapecó, no oeste de Santa Catarina, Ana Caroline Campagnolo, de 26 anos, conta que, em 2013, foi selecionada no programa de mestrado da Universidade do Estado de Santa Catarina, a Udesc, em Florianópolis.

Ana Caroline, que se declara conservadora e cristã, tinha como tema o projeto "Virgindade e Família: Mudança de Costumes e o Papel da Mulher Percebido Através da Análise de Discursos em Inquéritos Policiais de Chapecó". A orientadora selecionada pela banca para o trabalho foi Marlene de Fáveri, que ministra a cátedra "História e Relações de Gênero".

Os problemas entre orientanda e orientadora, segundo Ana Caroline, começaram já na primeira semana de aula. A mestranda afirma que colegas de faculdade passaram a monitorar seu perfil pessoal no Facebook, comunicando a Marlene as posições conservadoras adotas por Ana Caronile na rede. Pouco tempo depois, Ana afirma ter sido procura por email, por Marlene.

TEC./SONORA:
Ana Caroline Campagnolo, professora de história, ex-aluna de mestrado
“A professora me mandou um email ‘Ana bom dia, estou recebendo muitos emails com esses links – daí os links do meu perfil pessoal do Facebook – onde você se mostra antifeminista e eu estou sendo cobrada por seres minha orientanda’. Basicamente, o que ela quis dizer nesses emails é que ela queria da minha parte um comprometimento ideológico com a conclusão da pesquisa, com a hipótese cientifica, antes da pesquisa cientifica ser concluída.”

LOC.:
Após o incidente, Ana Caroline afirma que apagou as postagens para manter uma relação sem conflitos com a professora. No entanto, segundo ela, os problemas voltaram no semestre seguinte, quando concedeu uma entrevista a um canal no YouTube, onde as declarações foram consideradas machistas e retrógradas, na avaliação de colegas e da própria orientadora.
A discussão foi parar em sala de aula e Ana diz ter sofrido "estresse emocional e sofrimento psíquico, situação de humilhação e sensação de cerceamento", de acordo com os autos do processo. Marlene, por outro lado, afirma não ter constrangido, em nenhum momento, a orientanda. A professora afirma que a preocupação sempre foi com a integridade do campo de estudos em gênero e feminismo.

TEC./SONORA:
Marlene de Fáveri, historiadora e professora

“Ela pode se posicionar da forma que quiser, com as ideias que quiser, sem nenhum problema. Mas é que havia muitos equívocos e isso colocava em cheque toda a minha disciplina, meu plano de ensino, minha biografia e isso me constrangia também. Então, minha preocupação foi essa. Não existe nada de constrangedor.”

LOC.:
Justificando uma incompatibilidade do ponto de vista teórico-metodológico com relação à abordagem do tema, Marlene de Fáveri pediu o desligamento de Ana da cátedra de História e Relações de Gênero, em 2014.

Após o pedido ter sido atendido pelo colegiado, Ana Caroline Campagnolo diz ter sido obrigada a mudar o tema e o orientador. Ao final do mestrado, Ana acabou reprovada e protocolou o processo contra Marlene, no mesmo mês.

Nos últimos meses, diversas entidades educacionais se manifestaram a respeito do processo. O Departamento de História da Udesc, o Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da mesma universidade, o Instituto de Estudos de Gênero da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) entre outras instituições saíram em defesa da orientadora.

Ana Carolina Campagnolo é apoiada pela Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino, a Confenen, e pelo movimento Escola Sem Partido, que inspira o anteprojeto de lei contra a doutrinação ideológica nas escolas brasileiras. O projeto de autoria do deputado Erivelton Santana (PSC-BA) está sendo analisado por uma comissão especial. Em caráter conclusivo, a medida será analisada pelas comissões de Educação; e de Constituição, Justiça e de Cidadania.

Reportagem, João Paulo Machado

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