Por Paulo Henrique Gomes
Alagoas foi um dos cinco estados escolhidos pelos Departamentos Nacionais do Serviço Social da Indústria (SESI) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) para fazer parte do projeto-piloto de implantação do novo modelo curricular do ensino médio em 2018.
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A primeira turma - com 40 alunos que cursaram o primeiro ano do ensino médio, juntamente com o curso técnico de eletrotécnica na escola SESI/SENAI Benedito Bentes, em Maceió - utilizou a nova metodologia. O diretor da unidade, Carlos Abreu, explica como o novo método foi implantado e prevê que o modelo seja expandido neste ano. “É uma turma de 40 alunos e a gente está implementando agora, para 2019, uma outra turma, só que em outro curso técnico. O ano passado foi eletrotécnica e este ano vai ser sobre redes de computador. O (de) eletrotécnica vai para o segundo ano e agora a gente vai começar o primeiro (ano) do curso de redes de computador também”, afirma.

O modelo oferece um currículo integrado por áreas de conhecimento e não mais por disciplinas, e inclui formação técnica que permite aos estudantes iniciarem mais cedo a vida profissional. Os alunos podem escolher uma formação técnica dentro da carga horária do ensino médio regular. Caso obtenha sucesso, ao final dos três anos o estudante terá o diploma do ensino médio e o certificado do ensino técnico. Na opinião de Carlos Abreu, o modelo tradicional de ensino possui conteúdos que os alunos aprendem, mas não utilizam ao longo da vida. “É frustrante para o aluno estudar, ralar para estudar para uma matéria, para uma disciplina, e aquele conteúdo, depois da avaliação, não servir para absolutamente nada. Então isso não acontece no novo ensino médio, porque a gente já consegue fazer uma aglutinação de conteúdos que vão ser usados, para ele, seja no dia a dia, ou seja na vida profissional deles”, defende.
O aprendizado contextualizado e integrado é uma das novidades trazidas pelo novo ensino médio, que começou a ser implementado pelo SESI e pelo SENAI em 2018, em cinco estados – Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás e Espírito Santo – com 226 alunos. A estudante Regiane Keila, aluna do primeiro ano do ensino médio da escola SESI/SENAI Benedito Bentes, em Maceió, que utilizou o modelo de ensino do novo ensino médio, aprovou o caráter interdisciplinar do novo sistema de ensino. “Essa nova divisão, que é por área e não mais por disciplina, fez com que a gente conseguisse entender melhor a aula. Porque, por exemplo, se um professor de história vai lá e fala sobre “Era Vargas”, o de geografia vai lá e complementa na visão da área da geografia. Então a gente conseguiu entender muito melhor cada assunto que ele foi passando”, disse.
A nova norma prevê que os alunos do ensino médio terão 1.800 horas de formação geral básica, que será orientada pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e até 1.200 horas de itinerários formativos, como aprofundamento de estudos.
Ao todo, são três mil horas para todo o ensino médio, que começa com maior ênfase nos conteúdos gerais e, gradualmente, aumenta o número de horas-aula para a formação técnica e profissional. No primeiro ano, são 800 horas para conteúdos gerais e 200 horas para aulas sobre iniciação ao mundo do trabalho. No segundo ano, são 600 horas para conteúdos gerais e 400 horas para formação técnica e profissional. No terceiro ano, isso se inverte: são 400 horas para formação geral e 600 horas para a habilitação técnica.
Cada município terá de oferecer pelo menos dois dos cinco itinerários previstos: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica profissional.
Segundo a pedagoga e especialista em gestão escolar Juliana Diniz, o novo ensino médio é positivo, mas não pode esvaziar o papel da escola, que, por essência, precisa dar conta da formação do sujeito em todas as suas funções: integral, ético, justo e capaz de transformar o mundo no qual atua. “Nos parece que essa proposta traz um quê de modernidade, possibilitando que cada um dos alunos escolha determinados interesses e com isso tenha chance de melhorar a qualidade daquilo que se constrói, processo de escolha, o empoderamento desse aluno, o considerando pessoa de potência. Olhando ainda para uma concepção, essa ideia de trabalhar o ensino médio por percursos formativos, tende a ser uma boa experiência.”
Para 2019, o SESI e o SENAI programam uma expansão do modelo em suas unidades. Novos estados serão atendidos e novas habilitações serão ofertadas. Além de Eletrotécnica, os estudantes poderão optar pelas áreas de Matemática, Ciências da Natureza, Técnico em Mecânica ou Técnico em Rede de Computadores.
O ministro da Educação na época, Rossieli Soares homologou, no fim de novembro de 2018, as Diretrizes Curriculares Nacionais do novo ensino médio. A proposta foi relatada pelo diretor-geral do SENAI, Rafael Lucchesi, que é integrante do Conselho Nacional de Educação. Segundo ele, nenhum país se desenvolveu sem fazer uma grande aposta em educação, ciência, tecnologia, inovação, que são pilares fundamentais de uma agenda de país, e no Brasil não poderá ser diferente. “A expectativa é da população brasileira. É claro que temos um grave problema na indústria brasileira que é a baixa qualidade, a baixa escolarização da média populacional brasileira, o que faz com que a produtividade do trabalho no Brasil seja muito baixa”, diz Lucchesi.
Brasileiros são a favor de mudanças no ensino médio
Segundo uma pesquisa do IBOPE de 2016, 72% dos entrevistados são a favor de mudanças no ensino médio e 70% são a favor de que os estudantes escolham as disciplinas em que irão se aprofundar e possam optar pela formação técnica no ensino médio.
O que é o Novo Ensino Médio?
A Lei nº 13.415/2017 alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e estabeleceu uma mudança na estrutura do ensino médio, ampliando o tempo mínimo do estudante na escola de 800 horas para 1.000 horas anuais (até 2022) e definindo uma nova organização curricular, mais flexível, que contemple uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a oferta de diferentes possibilidades de escolhas aos estudantes, os chamados itinerários formativos, com foco nas áreas de conhecimento e na formação técnica e profissional. A mudança tem como objetivos garantir a oferta de educação de qualidade a todos os jovens brasileiros e aproximar as escolas da realidade dos estudantes de hoje, considerando as novas demandas e complexidades do mundo do trabalho e da vida em sociedade.