Método que omite informações em currículos quer diminuir discriminação entre candidatos a vagas de emprego

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Para tentar diminuir o preconceito no mercado de trabalho, uma nova forma de se candidatar a vagas de emprego tem ganhado espaço no Brasil. Conhecido como “currículo cego”, o método trazido da Europa consiste em omitir informações pessoais como nome, endereço, idade, nacionalidade, gênero ou foto. O objetivo é evitar que essas características sejam motivo de exclusão durante o processo de escolha do candidato. Apesar do propósito de tornar a seleção de currículos mais democrática, o conselheiro da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Distrito Federal, Mauro Garcia, explica que ocultar dados pode prejudicar o próprio candidato, dependendo do entrevistador.

“Essa questão do currículo cego, por exemplo, alguns estão retirando uma informação de endereço. Parece uma coisa simples, mas alguns empregadores preferem que o colaborador resida ali perto. Se ele omitir o endereço por algum motivo, isso pode prejudica-lo no processo seletivo”.

A jornalista e pesquisadora na área de relações de gênero e raça, Noemia Colonna, avalia que o “currículo cego” é uma medida válida. Porém, a especialista ressalta que práticas como essa perdem o efeito se houver recrutadores com o preconceito enraizado culturalmente.

“Não há uma pesquisa clara que houve um racismo ou uma discriminação por gênero durante o processo de seleção. Mas se a população brasileira tem 56% de negros e 52% da população brasileira é feminina, como é que explica essa homogeneização de corpos brancos e masculinos nas esperas de poder no país? Só pode se explicar por duas palavrinhas, preconceito e racismo”.

Uma pesquisa do Instituto Ethos, divulgada este ano, avaliou o perfil social, racial e de gênero das 500 maiores empresas do Brasil em relação à distribuição de cargos. Os dados preocupantes indicam, por exemplo, que apenas 6,3% de negros ocupam cargos de gerência. Entre as mulheres, somente 11% delas integram conselhos administrativos, grupos responsáveis por realizar grandes negócios nas empresas. Os números mostram, na prática, que há mais negros e mulheres na base do que no topo das estruturas corporativas.

Reportagem, Tácido Rodrigues
 

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