Ações policiais matam mais que latrocínio, aponta pesquisa; país também tem alto índice de mortes de policiais

SalvarSalvar imagem
SalvarSalvar imagem

BRASIL: Ações policiais matam mais que latrocínio, aponta pesquisa; país também tem alto índice de mortes de policiais

LOC.: Uma pesquisa realizada pelo IPEA e divulgada no Atlas da Violência de 2017 mostra que, entre 2005 e 2015, o número de mortes causadas durante ações policiais no Brasil foi maior que o de causadas pelo latrocínio, que é o roubo seguido de morte. O atlas mostra que, durante esses dez anos, cerca de 3.320 pessoas morreram durante ações policiais, contra 2.314 latrocínios. Para contar as ocorrências, a pesquisa levou em consideração os casos em que o policial – estando, ou não, no exercício da função - atingiu um civil.

Daniel de Castro, que é pesquisador do IPEA e coordenador do atlas da Violência, explica que esses números não representam um desvio individual da conduta do policial, mas que, pelo contrário, mostram um padrão institucional de uso da força pelas polícias. Daniel lembra que, apesar de a polícia brasileira ser uma das que mais mata no mundo, ela também é a que mais morre em decorrência do trabalho, o que acaba gerando um ciclo de violência.

TEC./SONORA:
Daniel de Castro, Pesquisador do IPEA e coordenador do atlas da Violência.

“A polícia aqui no Brasil é a que mais mata no mundo, mas por outro lado também é a que mais sofre, são vítimas de homicídios também. Nós tivemos no Brasil em 2015 mais de 500 policiais sendo assassinados. E na nossa visão, a truculência, o excesso de força usado pelas polícias e a morte de policiais são fatos de um mesmo fenômeno, e que fenômeno é esse? É uma certa sinalização e motivação das autoridades políticas e muitas vezes secretários de segurança, que num afã de mostrar serviço terminam incentivando o excesso do uso da violência. E esse excesso de violência termina virando um espiral da violência.”

LOC.: Daniel de Castro explica que o problema da violência não está restrito aos policiais. De acordo com o pesquisador, há muitos anos que o Brasil apresenta altos índices de homicídios, se equiparando a países que vivem em guerra.

TEC./SONORA: Daniel de Castro, Pesquisador do IPEA e coordenador do atrás da Violência.

“Nós tivemos no Brasil só em 2015 cerca de 60 mil pessoas que sofreram homicídio. É um processo que não começou ontem, mas vem desde princípios da década de 80. Só para se ter uma ideia da magnitude do problema, nos últimos dez anos mais de 318 mil jovens foram assassinados no Brasil. O Brasil sozinho responde por mais de 10% do total de homicídios no mundo. Em três semanas se mata mais aqui no Brasil do que em todos os atentados terroristas nos 5 primeiros meses de 2017.”

LOC.: Na visão de Jurema Werneck, diretora executiva do movimento Anistia Internacional, as mortes decorrentes de ações policiais deveriam ser mais fáceis de identificar e de julgar, já que os autores desses crimes não são desconhecidos. Outro aspecto apontado por Jurema é o perfil bem definido da maioria das vítimas.

TEC./SONORA:
Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional.

“Homicídio cometido pela polícia, é homicídio de autor conhecido, e se a gente sabe quem é que cometeu o homicídio deveria ser mais fácil investigar e também deveria ser muito mais fácil prevenir o problema. O outro aspecto igualmente grave, é que a maioria desses homicídios têm uma vítima comum: são jovens, são negros, são pobres residentes em favelas e periferias e tem baixa escolaridade e tiveram poucas oportunidades na vida. ”

LOC.: Os estados que registraram maior número de mortes durante ações policiais foram São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, respectivamente. O Atlas da Violência pode ser acessado no site do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o IPEA.

Reportagem, Déborah Costa

Receba nossos conteúdos em primeira mão.