REPÓRTER: Com a instauração do processo de impeachment e o afastamento temporário da ex-presidente Dilma Rousseff, o Brasil tem um novo governo. Michel Temer assume o executivo, nomeia novos ministros e forma uma base de sustentação no congresso. Isso, no entanto, não diminui o clima de tensão nos bastidores da política. A Lava Jato continuava amedrontando Brasília.
A força tarefa da operação voltou às ruas no dia 23 de maio, com a 29ª fase, denominada de Repescagem. O alvo foi João Cláudio Genu, ex-tesoureiro do Partido Progressista, o PP. Condenado no julgamento do mensalão a 7 anos e 3 meses de prisão, Genu foi preso pela Lava Jato por ter recebido mais de três milhões de reais em propina, referente a contratos da diretoria de Abastecimento da Petrobras, então comandada por Paulo Roberto Costa, entre 2007 e 2012.
24 de maio, um dia depois da operação repescagem, a Lava Jato deflagra à 29ª fase. A ação teve como um dos alvos o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. A investigação descobriu um esquema de pagamento de propina no setor de compras da Petrobras com a participação de Dirceu e do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque. A operação foi batizada com o nome vício em referencia a prática repetitiva de corrupção por agentes públicos, como afirmou o procurador da República, Roberson Pozzobon.
SONORA: Roberson Pozzobon, procurador da República.
“A corrupção, hoje, é praticamente uma regra, infelizmente, nos negócios públicos. Por outro lado, mesmo em um cenário calamitoso como esse nós vemos uma inércia do congresso nacional em aprovar medidas legislativas que possam reverter esse quadro.”
REPÓRTER: Mês de julho, dia 04. A Lava Jato descobre pagamentos de propina de 39 milhões de reais na construção do novo Centro de Pesquisas da Petrobras, no Rio de Janeiro. O beneficiário é Paulo Ferreira, ex-tesoureiro do PT. O dinheiro pago a Paulo Ferreira por empreiteiras foi empregado em blogs defensores do PT, entre outros.
Na fase Caça-Fantasmas, deflagrada no dia 07 de julho, a Lava Jato investigou um banco do Panamá, o FPB. A instituição operava clandestinamente no Brasil por meio da Mossack Fonseca, um escritório especializado na abertura de offshores. O banco abria e movimentava contas para viabilizar o fluxo de valores para o exterior. Tudo feito à margem do sistema financeiro brasileiro.
No dia 02 de agosto, a 33ª fase, batizada de Resta Um, mirou a construtora Queiroz Galvão. Os principais alvos foram os executivos Idelfonso Collares Filho e Othon Zanoide Filho, que foram presos preventivamente. A Lava Jato levantou informações sobre corrupção e fraude nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, na Refinaria Abreu e Lima e em diversas outras refinarias.
Arquivo X, com um nome de seriado de ficção a 34ª fase da lava Jato foi deflagrada no dia 22 de setembro. As investigações apuraram fraudes em contratos para a construção de duas plataformas de exploração do pré-sal, assinados entre a Petrobras, a OSX, empresa do ex-bilionário Eike Batista, e a empreiteira Mendes Júnior. O principal alvo foi o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, preso temporariamente e solto no mesmo dia por ordem de Sergio Moro. De acordo com a Força Tarefa da Lava Jato, Mantega teria negociado com as empresas contratadas pela Petrobras o repasse de recursos para pagamentos de dívidas de campanha do PT. O procurador da República, Carlos Fernando do Santos Lima falou à época sobre o esquema.
SONORA: Carlos Fernando do Santos Lima, procurador da República
“Esse consorcio ganhou concorrência na Petrobras sem nenhuma capacitação para essas construções. Nós temos aí, claro, a ocorrência de corrupção para que essas obras fossem adjudicadas para esse consorcio.”
REPÓRTER: Ainda em setembro, outro ex-ministro é alvo da Lava Lato, agora na operação Omertà. Antonio Palocci foi preso suspeito de atuar como intermediário para que a Odebrecht conseguisse contratos com o poder público.
De acordo com a denúncia "parte da propina paga pela Odebrecht ao PT estaria relacionada à atuação de Antonio Palocci em favor da empreiteira na contratação pela Petrobras de 28 sondas de perfuração para a exploração de petróleo na área do pré-sal".
Palocci é apontado como o responsável pelos acertos de propina envolvendo o Partido dos Trabalhadores e a empreiteira Odebrecht, como explicou a Procuradora da República, Laura Gonçalves Tessler.
SONORA: Laura Gonçalves Tessler, Procuradora da República
“Se verificou uma atuação intensa e reiterada do senhor Antônio Palocci em defesa dos interesses da empresa perante a administração pública Federal, envolvendo contratos com a Petrobras, questões veiculadas a medidas legislativas”.
REPÓRTER: Na próxima e última reportagem da série, você vai acompanhar as últimas três fases da operação Lava Jato no ano. As prisões do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha e do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.
Reportagem, João Paulo Machado