ESPECIAL: Lava Jato, a operação que estremeceu a República em 2016 (Parte 1)

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REPÓRTER: Políticos de renome, tesoureiros, empreiteiros, executivos e lobistas. Em 2016, ninguém conseguiu escapar da Força Tarefa da Operação Lava Jato.

Ao todo, foram 16 etapas concluídas ao longo do ano. Um recorde. No nascimento da operação, em 2014, foram sete fases. No ano passado, quando
surgiram os primeiros acordos de delação premiada, a Polícia Federal realizou 14 ações.

Depois de levar à cadeia, ao longo dos últimos dois últimos anos, operadores financeiros, ex-diretores da Petrobras, e alguns ex-parlamentares, a Lava Jato ganhou corpo, acumulou informações e, enfim, neste ano, alcançou grandes nomes da política brasileira.

A operação, em 2016, registrou 45 prisões temporárias e 25 prisões preventivas. Entre os nomes, estão o de João Santana, marqueteiro das últimas três campanhas presidenciais do PT, de Silvio Pereira, ex-secretário-geral do PT, do ex-senador Gim Argello, dos ex-ministros da Fazenda Guido Mantega e Antonio Palocci, do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha e do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral.

Foi em 2016 que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve seu nome vinculado com empreiteiras e passou a ser mais um dos investigados pela operação.

No dia 27 de janeiro, a PF deflagrou a operação Triplo X, fazendo alusão ao tríplex reservado para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no condomínio Solaris, construído pela empreiteira OAS, no Guarujá, em São Paulo. O apartamento, que supostamente seria do ex-presidente, foi reformado e mobiliado pela empreiteira, que, de acordo com a Força Tarefa da Lava Jato, usou o edifício para pagar propina e lavar dinheiro, como explicou em coletiva a imprensa o procurador da República, Carlos Fernando do Santos Lima.

SONORA: Carlos Fernando do Santos Lima, procurador da República
"Nós estamos verificando ocultação patrimonial, lavagem de dinheiro e pagamento de corrupção através de um empreendimento assumido pela OAS no litoral de Guarujá, que é o condomínio Solarís."

REPÓRTER: No mês seguinte, no dia 22 de fevereiro, através da operação Acarajé, a Lava Jato chegou ao marqueteiro João Santana. Os investigadores descobriram dinheiro depositado pela empreiteira Odebrecht em uma conta não declarada mantida na Suíça pelo marqueteiro e por sua mulher Mônica Moura, como explicou à época, o procurador do Ministério Público Federal, Deltan Dallagnol.

SONORA: Deltan Dallagnol, procurador do Ministério Público Federal
“A Odebrecht já era investigada formalmente na Lava Jato. Já se sabia que boa parte do dinheiro usado sobre o pano pela Odebrecht era dinheiro de propina. Então, depois da descoberta do envolvimento da Odebrecht o que se identificou foi uma série de pagamentos, 45, em favor de João Santana e Monica Moura.”
 
REPÓRTER: Na terceira fase da operação Lava Jato, em 2016, o alvo voltou a ser o ex-presidente Lula. Na chamada operação “Aletheia”, “verdade”, em tradução do grego.

A Justiça emitiu mandato de condução coercitiva contra o ex-presidente. Ou seja, Lula foi levado pela polícia para prestar depoimento. Além do petista, Paulo Okamoto, que preside o Instituto Lula também foi levado pela Polícia Federal. O objetivo da condução coercitiva foi esclarecer suspeitas de que Lula recebeu valores da Petrobras por meio da reforma do triplex, no Guarujá e do sítio em Atibaia, além apurar pagamentos ao ex-presidente realizados por empresas investigadas na Lava Jato.

Após ter sido conduzido para depor, o ex-presidente convocou um pronunciamento para negar participação nos escândalos de corrupção na Petrobras. Lula também afirmou não ser dono de um apartamento triplex no Guarujá e de um sitio na zona rural Atibaia. E afirmou ter ficado ofendido com a operação deflagrada pela PF.

SONORA: Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República
“Eu me senti prisioneiro hoje de manhã. Eu sinceramente já passei por muitas coisas na minha vida. Eu não sou homem de guardar ressentimentos de guardar magoa, mas eu acho que o nosso país não pode continuar assim.”

REPÓRTER: Naquele momento, o petista aproveitou para tecer as primeiras criticas que faria ao poder Judiciário e a Operação Lava Jato, associando a operação a uma produção midiática.

SONORA: Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente da República
“Enquanto os advogados não sabiam nada, alguns meios de comunicação já sabiam. Então é lamentável. É lamentável que uma parcela do poder Judiciário brasileiro esteja trabalhando em associação com a imprensa.”

REPÓRTER: Na próxima reportagem da série, você vai acompanhar como agiu a Operação Lava Jato nos meses que antecederam o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. A prisão do ex-senador Gim Argello e o envolvimento do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula no esquema de corrupção que abalou a república.

Reportagem, João Paulo Machado

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