Projeto literário desenvolvido em Natal-RN usa obra de Luís da Câmara Cascudo para incentivar senso crítico de alunos

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Por Pedro Marra

Na escola do Serviço Social da Indústria (SESI) de Natal (RN), o professor Ailson de Medeiros, criou o projeto Café Literário com um único objetivo: gerar senso crítico em 80 alunos, distribuídos em duas turmas do 2º ano do ensino médio por meio. A base da ideia foi o livro Actas Diurnas, do também potiguar Luís da Câmara Cascudo. Entre setembro a outubro do ano passado, os alunos fizeram comentários sobre uma das crônicas da obra.

A ideia foi apresentada como projeto de destaque no 2º Encontro Nacional do SESI entre as melhores práticas pedagógicas de todas as Escolas SESI do país. A Pinacoteca de São Paulo (SP) recebeu o evento nos dias 30 e 31 de outubro de 2017, onde professores dos demais estados do país também apresentaram seus respectivos projetos. Para influenciar na familiaridade com o projeto, o Ailson mostrou fotos de locais da cidade em slides para os alunos.

“Foi importante mostrar fotos, tanto que eles ficaram bastante exaltados na hora da apresentação, porque era algo muito próximo da vivência deles. Os bairros que moram, as praias, por exemplo”, analisa.

Alunos na roda de conversa do projeto Café literário / Foto: arquivo pessoal

Ailson acredita que os alunos evoluíram o senso crítico com as crônicas.“Fazer com que eles tivessem capacidade de se pronunciarem criticamente sobre o que acontecia no cotidiano a partir de um olhar crítico antes de mais nada. Porque crônica é um texto crítico, e você se posiciona sobre alguma coisa que aconteceu com você, e que de algum modo, te levou à reflexão”, comenta.

Nas aulas sobre conectores discursivos, Ailson lecionou sobre pronomes relativos, para dar a base aos alunos escreverem as crônicas como atividade prática. Depois, ocorreram cinco encontros em que os jovens tinham de deixar comentários numa roda de conversa, sobre: pontuação, uso dos pronomes e marca de oralidade, por exemplo.

Resultado

Ailson ainda recorda o exemplo de um aluno que fez uma crônica sobre um caso de assédio verbal num ônibus. “O garoto (aluno do SESI Natal-RN) viu um rapaz ‘bulinando’ uma moça no ônibus, mas se omitiu. Estava vendo que a garota estava desconfortável. E foi interessante porque, na crônica, ele fazia uma mea culpa. Isso fez com que ele ficasse muito mal. Então o fato dele ter reconhecido a omissão já é grande coisa. Porque ele escreveu dentro do padrão que eu pedia”, recorda.

Na opinião do gerente executivo do SESI, Sérgio Gotti, o projeto Café Literário é mais um exemplo do rumo da educação dos alunos que a instituição alcança no ensino dos alunos.

“O que a gente observa é que a rede (SESI) está indo para um caminho muito interessante de trabalhar cada vez mais com essa parte de resolução de problemas com metodologias ativas. Os nossos alunos estão vindo num formato de aprender que se diferencia das demais redes. Isso facilita muito a compreensão, aproxima da realidade deles. E a sala de aula precisa se aproximar dele, porque a cada dia que passa, a escola vai ser menos interessante. E isso significa que os meninos estão aprendendo melhor e com mais qualidade."

A avaliação final dos alunos envolvia participação no processo, assimilação dos aspectos discursivo-gramaticais e adequação de gênero e linguagem do texto produzido. As crônicas presentes no livro, retratam a vida cotidiana com um humor sutil. A obra foi feita numa parceria entre o Novo Jornal e o Instituto Câmara Cascudo, ambos dirigidos pelo jornalista Cassiano Arruda Câmara e Anna Maria Cascudo Barreto.

O livro Actas Diurnas, do escritor Luis da Camara Cascudo serviu como base para o projeto /  Foto: reprodução Instituto Câmara Cascudo

Quem foi Cascudo?

Luís da Câmara Cascudo nasceu em 1898 e trabalhou como jornalista, historiador, antropólogo e advogado. Em 1986, ele faleceu com 87 anos, e deixou trabalhos como a crônica diária no jornal "A República", de Natal (RN). Em 1951, Cascudo se tornou professor de direito internacional público na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Três anos mais tarde, lançou uma de suas obras mais importantes, o "Dicionário do Folclore Brasileiro", obra de referência no mundo inteiro. No ramo da etnografia, publicou livros importantes como "Rede de Dormir", em 1959, "História da Alimentação no Brasil", em 1967, e "Nomes da Terra", em 1968. O escritor também foi premiado pelo livro "Geografia dos Mitos Brasileiros", com o qual recebeu o prêmio João Ribeiro, da Academia Brasileira de Letras.

Em 1965, Câmara Cascudo escreveu uma obra definitiva, "História do Rio Grande do Norte", retratando uma pesquisa sobre sua terra natal, da qual jamais se desligou. Ao todo, o escritor potiguar publicou 150 volumes.

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