Alunos do SENAI Jundiaí criam processo de pigmentação de plásticos a partir do Urucum
Técnica desenvolvida pelos estudantes do SENAI de Jundiaí pode ser inserida em produção de embalagens da Natura, a partir de janeiro
Por Cristiano Carlos
Uma boa ideia pode mudar os rumos de uma sociedade, das pessoas e, claro, de quem a teve. No entanto, “tirar” da cabeça um pensamento e torna-lo realidade não é uma tarefa fácil, nem mesmo nas atividades mais simples do cotidiano, mas com o apoio certo, na hora certa, e com muita disposição, tudo é possível.
Um grupo de alunos da Escola SENAI Conde Alexandre Siciliano, em Jundiaí, São Paulo, tiveram contato com uma ideia que poderia transformar pigmentos químicos, usados para colorir plásticos, em produtos 100% naturais extraídos do Urucum, fruto nativo das Américas e muito usado pelos indígenas para remoção de tintura vermelha.
A ideia era criar um produto que pudesse substituir os químicos na pigmentação de embalagens plásticas.
“Começou como um projeto de TCC, mas era somente um trabalho acadêmico. Como trabalho acadêmico, de conclusão de curso de alunos técnicos em plástico. Foi um trabalho onde foi feito uma validação técnica, mas o tempo para desenvolver o projeto é muito pequeno. Então, até esse momento, ele era um TCC”, explica o Instrutor de Práticas Profissionais do SENAI, Jundiaí, Eduardo Vargas.
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Com a ideia no papel, o grupo de alunos, do curso técnico profissional em plásticos, foram orientados a participar do Mostra Inova, um programa do SENAI para o desenvolvimento de ideias em processos e projetos inovadores, em gestão e tecnologia para a indústria brasileira.
O projeto dos alunos de Jundiaí foi selecionado entre os melhores de São Paulo, na etapa regional do Mostra Inova, na categoria Processo Inovador. Com a seleção, o grupo partiu para transformar a ideia em realidade. O desafio era estruturar o conceito do produto, com vistas a viabilidade técnica e econômica.
“Nós desenvolvemos todo o processo, desde fornecedor do Urucum, em escala industrial como nós precisamos, nós desenvolvemos toda a extração e incorporação, fizemos testes aqui na escola nos equipamentos que nós temos, que são equipamentos idênticos aos da indústria de transformação de plástico usa, em todo território nacional”, conta Eduardo Vargas.
Colorindo com a Natureza
Os alunos da Escola Técnica Profissional do SENAI, de Jundiaí, criaram o Organicolor, processo de pigmentação orgânica para embalagens plásticas. O processo é sustentável, reduz os danos ambientais e insere na produção de plásticos uma matéria prima de fonte renovável, o Urucum.
A ideia, enfim, saiu do papel e, após os testes em todas as fases da produção, a equipe de estudantes e professores do SENAI precisavam viabilizar a comercialização do Organicolor. O projeto foi demonstrado para uma indústria de cosméticos que tem apelo comercial sustentável, a Natura, que deve realizar uma produção piloto, com uso das técnicas desenvolvidas pelos alunos do SENAI de Jundiaí, a partir de janeiro do próximo ano.
“O bacana disso tudo é que quando apresentamos para o pessoal de inovação, dentro da Natura, eles falaram: bom, eu quero testar isso aí. A gente quer colocar isso aí na linha, queremos fazer um lote piloto e a gente quer fazer testes. Eles demostraram grande interesse. E, nessa reunião, os alunos também participaram e isso foi muito bacana para eles. Essa experiencia é única”, relata o Instrutor de Práticas Profissionais do SENAI, Jundiaí.
No Mostra Inova 2018, o Organicolor avançou para a etapa nacional do programa e ficou em segundo lugar na categoria Processo Inovador.
Os primeiros conceitos do Organicolor foram registrados em Trabalho de Conclusão de Curso dos alunos Michele Monteiro e Vinícius de Souza Campos, que se formaram no ensino técnico profissional e, por isso, não poderiam participar diretamente do desenvolvimento do produto. A missão de transformar a ideia em realidade ficou nas mãos dos alunos do curso técnico profissional em plásticos, Maitê Pavanidos Passos, Carlos Eduardo Pequeno Inocêncio, Felipe Costa Silva e Kauan Oliveira Moreira, orientados pelo professor Eduardo Vargas.
“Dizer o sim foi muito fácil. O difícil foi a gente fazer o projeto andar. Através de várias pesquisas, a gente sempre esteve tentando nos atualizar sobre o mercado, saber mais sobre o próprio Urucum que a gente sabia muito pouco. E, através de várias pesquisas, que a gente pode dar andamento ao projeto. A gente pesquisava e ia para prática. Aí não dava certo, a gente voltava para área de pesquisa e ia novamente para prática. Foi intercalando essa dinâmica que a gente deu continuidade ao projeto”, relata Kauan Moreira, 18 anos, aluno participante do projeto Organicolor.
Programa Mostra Inova 2018
O programa Mostra Inova 2018, do SENAI, classificou 50 projetos para a fase nacional, em duas categorias: Produto Inovador e Processo Inovador. Os classificados demonstraram seus projetos na Olimpíada do Conhecimento, realizada pelo SESI e SENAI, no mês de julho.
Os 25 projetos classificados na categoria Produto Inovador tiveram consultoria com profissionais especializados, aulas à distância e auxílio financeiro de até cinco mil reais para o desenvolvimento das ideias. Na categoria Processo Inovador, os selecionados contaram com consultoria, participaram de banca virtual, de aulas à distância e auxílio financeiro de até dois mil reais.