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Médicos do DF se dividem sobre aplicação de drogas contra a Covid-19

478 médicos assinaram sugestão de protocolo entregue à secretaria de saúde. CRM pede cautela nas prescrições

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Um grupo de 478 médicos do Distrito Federal se uniu para propor à secretaria de saúde um protocolo de tratamento precoce de pacientes infectados pelo novo coronavírus. O grupo sugere o uso de um conjunto de medicamentos, que inclui o vermífugo ivermectina e o antibiótico azitromicina, além da polêmica hidroxicloroquina. O tratamento tem se difundido pelo Brasil e médicos começam a recomendar o coquetel de medicamentos a pacientes, mesmo com base em evidências científicas limitadas.

Os médicos defendem que, em vez dos pacientes esperarem ter sintomas graves para procurar um hospital, o governo disponibilize os medicamentos logo nos primeiros sinais da doença. “Quando você trata a doença tardiamente, ela passa da fase de replicação do vírus, para a fase inflamatória, que provoca um processo extremamente grave e difícil de tratar”, explica o médico Eloadir Galvão. “Na fase inicial da doença, do quinto ao sétimo dia, a hidroxicloroquina, que é usada na Amazônia contra a malária há muitos anos, associada a azitromicina, ao zinco e a ivermectina, tem se mostrado eficaz no progresso da doença”, defende.

Tratamentos experimentais contra covid-19 ganham força no Brasil

Entidades médicas dizem que uso de cloroquina e hidroxicloroquina necessita de estudos mais aprofundados

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) disse que recebeu e analisa a sugestão dos médicos. Oficialmente a pasta não recomenda o uso da hidroxicloroquina e da cloroquina, por conta de possíveis efeitos adversos da medicação, principalmente em relação a problemas cardíacos. Porém, a cloroquina 150 mg é fornecida pela SES-DF para tratamento de pacientes com Covid-19, caso haja receita médica. O fornecimento é feito por orientação do Ministério da Saúde, a pedido do presidente Jair Bolsonaro.

O presidente do Conselho Regional de Medicina do DF, Farid Buitrago Sánchez, explica que a ciência ainda não conseguiu gerar provas suficientes de que os medicamentos orientados podem ajudar no combate à Covid-19, contudo médicos têm liberdade para escolher receitar ou não as drogas, da mesma forma que pacientes podem ou não aceitar a medicação. Mas ele recomenda que a prescrição seja feita com cautela: “O cuidado que o médico deve ter é de informar o paciente que é um medicamento em caráter experimental, que pode trazer efeitos colaterais. O CRM também recomenda a assinatura de um termo de consentimento entre médico e o paciente. A utilização deve ser de comum acordo entre os dois”, pontua.

Controvérsias

Entre todos os de medicamentos listados no protocolo sugerido pelo grupo de médicos, o mais polêmico é justamente a hidroxicloroquina. A droga se difundiu junto a um protocolo defendido por uma médica brasileira que trabalha em um hospital de Madri, na Espanha, onde o método foi aplicado. Contudo, mesmo no país ibérico não há consenso sobre o uso do remédio. Apesar de não descartar que a cloroquina e a hidroxicloroquina possam ter algum efeito em estágios iniciais da Covid-19, a Agência Espanhola de Medicamentos e Produtos Sanitários lançou uma nota para médicos informando que nenhum estudo clínico já conseguiu demonstrar a eficácia das drogas. A instituição também destaca que mesmo os resultados in vitro apresentaram problemas metodológicos e que as substâncias podem causar problemas cardíacos e neuropsiquiátricos.                                                       

Nos Estados Unidos, a U.S. Food & Drug Administration (FDA), que regula os medicamentos no país revogou no mês passado o uso emergencial da cloroquina contra a Covid-19, por falta evidências científicas sobre a eficiência da droga. Também em junho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) interrompeu os testes clínicos da hidroxicloroquina após não encontrar benefícios no uso da droga.

Apesar do foco normalmente ser direcionado à hidroxicloroquina, o vermífugo ivermectina também é considerado polêmico. Os grupos que defendem o uso do medicamento citam uma análise de pesquisadores de Melbourne, Austrália, que mostra que o antipulgas diminuiu a carga viral do coronavírus em testes in vitro. Por outro lado, médicos que são críticos ao modelo afirmam que a dose usada para se combater o coronavírus é muito maior do que aquela usada contra piolhos e vermes. Em doses elevadas, os efeitos colaterais ainda não são conhecidos.

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