São Paulo: EBC/Divulgação
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Instituições políticas municipais inspiram pouca confiança, mostra pesquisa de São Paulo

Pesquisa Viver em São Paulo ouviu a população para saber quais as visões dos paulistanos sobre a cidade, permitindo resultados que norteiam políticas públicas

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Instituições políticas são as que menos inspiram confiança dos paulistanos. É isso que aponta a pesquisa Viver em São Paulo: Qualidade de Vida, realizada pela Rede Nossa São Paulo, em parceria com o Ibope Inteligência. Os resultados foram divulgados nas últimas semanas e mostram que a Câmara Municipal de SP, o Tribunal de Contas do Município (TCM) e a Prefeitura de São Paulo são as instituições menos prestigiadas, com confiança de apenas 22%, 29% e 31% da população paulista, respectivamente. 

A organização entrevistou 800 pessoas que moram no município de São Paulo e têm 16 anos ou mais, entre os dias 5 de dezembro de 2020 e 4 de janeiro de 2021. Outro questionamento que chamou atenção dos pesquisadores foi qual instituição mais contribui para a melhora da qualidade de vida da região. Os partidos políticos e a Câmara Municipal só tiveram 1% dos votos dos participantes, enquanto o Poder Judiciário e os Conselhos Municipais só alcançaram 4%. O topo deste ranking foi composto por instituições como a igreja, organizações não governamentais (ONGs), universidades e meios de comunicação.

Rosemary Segurado, cientista política e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), analisa os resultados da pesquisa apontando uma necessidade de maior integração entre população e gestores municipais, com aproximação do cidadão no processo político. “O prefeito, o vereador, são as faces mais concretas e diretas da política. O que acho que é importante é, para nós, pensarmos que eles podem usar essa qualidade do cargo e governar inclusive junto à população. Fazer uma gestão mais participativa, ouvir mais as necessidades das pessoas”, aconselha. 

A especialista ressalta que a pandemia fez surgir ainda mais a necessidade de gestores estenderem as mãos às pessoas. “É preciso fazer isso com os recursos públicos pagos com nossos impostos, através de políticas que diminuam esse sofrimento, e não fazer o que foi feito, por exemplo, um mês após a eleição, pela prefeitura de São Paulo, que cortou uma política que nós tínhamos, de passe livre para os idosos acima de 60 anos. É muito difícil recuperar a confiança da população com políticas impopulares”, argumentou. 

Apesar da desconfiança da população, a participação e o conhecimento de gestões políticas ainda é baixo. Apenas 13% dos paulistanos afirmaram conhecer bem as funções da subprefeitura, enquanto 29% disseram não conhecer. A pesquisa destaca ainda que, a cada 10 entrevistados, 3 já haviam esquecido em quem votaram para a eleição de vereador em 2020. 

A participação na vida política do município, porém, subiu entre 2019 e 2020, sendo maior conforme aumenta a escolaridade, renda familiar ou classe socioeconômica do paulistano. O fator de distância entre povo e prefeitos ou vereadores é escancarado nas populações de menor poder aquisitivo. Entre as classes D e E, 75% não participam da política municipal.

Qualidade de vida

O levantamento também apontou que a qualidade de vida piorou para 43% dos paulistanos nos últimos 12 meses, se mantendo estável para 39% deles e melhor para 19%. Carolina Guimarães, coordenadora da Rede Nossa São Paulo, explica que a pesquisa é feita todo ano em janeiro, antes do aniversário da cidade, para nortear políticas públicas e construir um programa de metas aos gestores. Ela destaca ainda que os sentimentos mais citados pelos entrevistados quando perguntados como se sentem em relação ao município foram esperança e decepção. 

“Os resultados mostram uma São Paulo de muitas dicotomias, caótica e de oportunidades. Quando você vê os sentimentos, as pessoas têm sentimentos de esperança e, ao mesmo tempo, de decepção. Isso é muito claro na cidade. E essa pesquisa é uma grande referência para outras cidades, principalmente aquelas pequenas, em que a gente sabe que os vereadores têm mandatos múltiplos e muitas vezes interesses muito específicos. É interessante quebrar isso, trazer outras perspectivas, outras vozes para que isso seja incorporado aos mandatos.”

Carolina lembra também que a pandemia escancarou problemas sociais. Para ela, a fala de que todo mundo estava no “mesmo barco” durante a crise sanitária da Covid-19 é uma “falácia”. “Nem todas as pessoas puderam trabalhar de casa. Para muitas, isso foi um luxo. Isso é muito importante, porque, muitas vezes, os trabalhos essenciais eram de pessoas que moravam nas periferias e tinham que ir ao centro, onde, infelizmente, se concentra a maior parte dos empregos formais, e esse trajeto era difícil e com riscos”, afirma.

Sentimento

Quando questionados sobre o que menos gostam na cidade, os paulistanos citaram violência, criminalidade, desigualdade e trânsito nas primeiras posições. Já entre as maiores qualidades de São Paulo, foram citadas as oportunidades, o mercado de trabalho, a diversidade de serviços e lazer/diversão/entretenimento. Erika Padovani, especialista em Mercado Financeiro, é mineira e mora em São Paulo há 7 anos. Na visão dela, a região oferece inovações tanto no campo dos negócios quanto no campo recreativo. 

“Estou investindo nos meus estudos, no meu profissional, e vejo diversas oportunidades e culturas nessa cidade. Além de ser um grande centro financeiro, é um grande point gastronômico e de lazer”, avalia. Quem tem uma visão semelhante é Renato Ricarti, paraibano e jornalista. “Eu morava em uma cidade chamada Cachoeira dos Índios, de aproximadamente 3 mil habitantes, mas escolhi São Paulo apesar de todas as loucuras, dos problemas de infraestrutura, de transporte público. Já estou acostumado com tudo isso e gosto muito de morar aqui por esse leque de oportunidades em diversas áreas”. 

Os sentimentos positivos em relação a São Paulo mais citados na pesquisa são esperança, gratidão, admiração, simpatia e orgulho. Patrícia Galdino Ramos, contadora e turismóloga, nasceu e cresceu no município e diz que não sai mais de lá. “Não me vejo em outro lugar, porque São Paulo tem tudo para proporcionar o bem estar e qualidade de vida a qualquer pessoa”, considera. Nilson Santarém Nunes, analista de Marketing, diz que a cidade é “um caso de amor”. “Me apaixonei pela diversidade dessa cidade, que é plural e abraça qualquer que seja a forma de viver e se relacionar da pessoa, porque existem vários mundos dentro dessa cidade.”  

Esses resultados que dão voz à população podem ser base para diversos setores da administração pública. A pesquisa finaliza mostrando que as participações nas atividades da Câmara de Vereadores têm mais apelo quando realizadas por meio das redes sociais, aplicativos de mensagens ou reunião com a população dos bairros, e que a avaliação da administração é diretamente proporcional à satisfação com a qualidade de vida na cidade.
 

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