Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

“Não dá para apostar contra um cenário de economia crescente este ano”, aposta economista

O Brasil 61 entrevistou o professor Adriano Paranaiba, diretor acadêmico do Mises Academy. O especialista acredita que algumas das reformas feitas nos últimos anos podem começar a surtir efeito em 2022. Ele também explicou por que acha que o Brasil está no rumo certo quando o assunto é de onde vem os recursos para investir

SalvarSalvar imagemTextoTexto para rádio

O índice que mede a confiança do consumidor (ICC) caiu 3,1 pontos em março, segundo divulgou a Fundação Getulio Vargas (FGV), nesta sexta-feira (25). A inflação na casa dos dois dígitos (10,54%) e o endividamento das famílias pesaram para que o otimismo dos brasileiros caísse no último mês. 

Por outro lado, há pouco mais de três semanas, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou que o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu 4,6% em 2021 e que a taxa de investimento chegou aos 19,2%, o maior patamar desde 2014. Além disso, no ano passado, o Brasil gerou mais de 2,7 milhões de vagas de emprego com carteira assinada. 

Como entender os sinais contraditórios que a economia brasileira parece dar? Para tentar explicar, o portal Brasil 61 entrevistou o professor Adriano Paranaíba. O economista e diretor acadêmico do Mises Brasil falou sobre o resultado do PIB de 2021 e sobre as projeções para a economia do país este ano. 

Segundo o especialista, a perspectiva para o ano de 2022 é positiva, mesmo com a guerra entre Ucrânia e Rússia impactando as cadeias de produção e a inflação em alta. No cabo de guerra entre as projeções do Ministério da Economia, que aposta em crescimento próximo aos 2% e do mercado financeiro, que fala em 0,5%, Paranaíba prefere não tomar partido. 

Durante o bate-papo, o economista destacou o que, para ele, foi a notícia mais positiva do PIB brasileiro do ano passado: a alta na taxa de investimentos, que em apenas um ano cresceu 17,2%. Paranaíba explicou porque acredita que o Brasil está no caminho certo quando o assunto é de onde tem que vir o dinheiro para financiar o crescimento e criticou a reação “tardia” do Banco Central para lidar com a inflação. 

PIB cresce 4,6% em 2021 e país retoma patamar anterior à pandemia, diz IBGE

Brasil alcança maior taxa investimento desde 2014, mas ainda ocupa 128ª colocação em ranking internacional

Confira a entrevista:

Brasil61: A confiança do consumidor caiu em março, a inflação está na casa dos dois dígitos e o endividamento dos brasileiros é alto. Ao mesmo tempo, há não mais de um mês, o IBGE divulgava que o PIB brasileiro cresceu 4,6%, a taxa de investimentos alcançou o maior patamar desde 2014 e que o mercado formal de trabalho gerou mais de duas milhões e setecentos mil vagas em 2021. Os sinais da economia do país parecem contraditórios. Para ajudar a entendê-los, eu, Felipe Moura, conversei com o professor Adriano Paranaíba. O economista e diretor acadêmico do Mises Academy detalhou o resultado do PIB de 2021 e fez projeções para a economia brasileira em 2022.  

Professor Adriano, apesar de o PIB ter crescido 4,6% em 2021, a agropecuária, que costuma puxar a economia nos últimos anos, recuou. Qual análise o senhor faz dessa questão? 

Professor Adriano Paranaíba: “O PIB agropecuário, durante muitos períodos de crise brasileira, foi quem segurou mesmo o crescimento ou impediu um crescimento negativo maior, mas, na verdade, a parte agrícola foi muito bem. Eles foram beneficiados por ganhos reais de preços das commodities e quem realmente puxou pra baixo foi a questão da pecuária, que da mesma forma como a agricultura se beneficiou do câmbio, a pecuária foi um pouco prejudicada nesse sentido. Por mais que o PIB do IBGE fala lá da agropecuária, que teve esse recuo, o agronegócio teve um crescimento substancial. Eu acredito que a agricultura conseguiu superar essas desvantagens climáticas que você relatou, mas realmente a preocupação veio lá do setor da pecuária. Por exemplo, se pegar o PIB do agronegócio da CNA, a pecuária puxou 8,04% para baixo”. 

Brasil61: Agora, falando de perspectivas para 2022, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o mercado financeiro costumam divergir bastante em relação aos indicadores. Um fala em crescimento de 2%, outro em apenas 0,5%. O que o senhor pensa dessa discussão? 

Professor Adriano Paranaíba: “Eu não vou defender nenhum dos dois nesse meu ponderamento, porque o ministro Paulo Guedes faz o papel de ministro, que é vender otimismo pro mercado. Contudo, é bom a gente fazer uma análise retrospectiva: o [Boletim] Focus mais erra do que acerta. A gente tem um histórico de erros, tanto em previsão de PIB, como de taxa de juros e perspectiva de inflação também. Eu acredito que podemos ter um PIB melhor para esse ano por causa dos resultados de políticas microeconômicas, principalmente, que foram tomadas ao longo desses três anos. Está evidente que a pandemia acabou. A gente está tendo uma retomada, mais movimento acontecendo nas cidades. Então, a economia está voltando. Não dá para apostar contra um cenário de economia crescente esse ano”. 

Brasil61: O senhor é otimista mesmo com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia impactando as cadeias globais de produção?

Professor Adriano Paranaíba: “Essa questão da Ucrânia com a Rússia, a guerra está se estendendo mais do que muitos analistas imaginavam e isso está trazendo uma instabilidade econômica financeira muito grande e o Brasil está, de certa forma, atraindo investimento. Você está tendo um volume interessante de pessoas migrando, trazendo investimento pro Brasil, muito mais porque o mundo está muito ruim do que propriamente do Brasil estar muito bom”. 

Brasil61: Professor, a taxa de investimento do Brasil alcançou o seu maior patamar desde 2014. Mas ainda estamos na posição 128 de 196 países quando o assunto é investimento. O que é preciso fazer para melhorar?

Professor Adriano Paranaíba: “De fato, foi o dado do PIB que mais chamou atenção porque não dá pra negar, pessoal, que o investimento privado é que traz crescimento econômico, é o que gera emprego, é o que gera renda. Você falou aí de dois mil e catorze, nós estamos falando de um Brasil que durante um período acreditava que o governo é quem era o responsável por fazer investimento. Nós tivemos lá a política lá dos ‘campeões nacionais’. Muito dinheiro e crédito subsidiado. E isso acabou nos levando a uma grande crise que tivemos e que nos colocou nessa posição tão ruim do Outlook do FMI. Então, o que nós estamos fazendo, na verdade, é correndo contra, que é o que puxou a gente a âncora lá pra trás, que nos afundou nesse número. Os números estão mostrando que a gente precisa aprofundar mais ainda nessa agenda que está dando certo. Tem muita gente torcendo contra, mas realmente essa questão de abertura econômica, abertura comercial do Brasil, facilita a atração de investimentos privados para um investimento real. Vamos imaginar assim: é como se fosse uma corrida e a gente demorou pra dar a largada. Agora é manter o ritmo e continuar só pensando em crescer que a gente vai alcançar o resto dos outros cento e tantos países que estão à nossa frente”. 

Brasil61: Na sua opinião, o investimento tem que vir da iniciativa privada? 

Professor Adriano Paranaíba: “Por que o investimento público na minha perspectiva é um investimento ruim? Porque ele não tem as informações que o mercado tem. E em vez de ajudar a economia, ele acaba distorcendo a economia. Não tem como burocrata em Brasília dizer exatamente quais são as áreas que precisam de investimento. Porque toda vez que o governo vai falar assim: ‘eu vou fazer um investimento’, ele acaba direcionando o investimento. Se esse investimento fica a cargo do mercado, o mercado que tem a sua capilaridade, os investidores, eles têm ali a capilaridade de enxergar o que que está acontecendo na economia, e na economia do mundo, eles vão saber direcionar melhor esse investimento”. 

Assista à entrevista completa abaixo:

Receba nossos conteúdos em primeira mão.