Foto: Jcomp/Freepik
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Crescimento do PIB supera expectativas em 2022, afirma coordenador de conjuntura do Ipea, Estêvão Kopschitz.

Em entrevista ao Brasil 61, Estêvão Kopschitz, coordenador de conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), disse que as perspectivas de crescimento em 2022 são boas e o PIB pode fechar o ano com aumento de 2,8%

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O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) vê com otimismo a recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano. Segundo nova previsão divulgada pelo instituto no final de setembro, a economia brasileira está se recuperando e superando as expectativas, com possibilidade de fechar 2022 com crescimento de 2,8%.

De acordo com o coordenador de conjuntura do Ipea, Estêvão Kopschitz, o principal setor que vem puxando o crescimento do PIB é o de serviços, segmento que sofreu forte impacto da pandemia por depender da mobilidade da população.

No entanto, o especialista também alerta que o Brasil pode sofrer impacto de uma possível recessão mundial nos próximos anos, devido à guerra na Ucrânia e a alta inflação nos Estados Unidos e países europeus. 

"Apesar de a indústria e do serviço sofrerem com a recessão mundial e com os efeitos do aperto da nossa própria política monetária, a gente acredita que o setor agropecuário vai compensar isso um pouco e nossa previsão para 2023 é de 1,6% [de crescimento do PIB] para o ano que vem.”, afirma o coordenador.  

Mas, afinal, o otimismo em relação à recuperação do PIB brasileiro se mostra sustentável a médio e longo prazo? Quais setores podem despontar nos próximos anos e auxiliar nesse crescimento? Confira abaixo as respostas do coordenador de conjuntura do Ipea, Estêvão Kopschitz, em entrevista ao portal Brasil 61.

Brasil 61: O Ipea divulgou no final de setembro uma nova previsão de crescimento do PIB para este ano. O que motivou essa nova perspectiva de crescimento?

Estêvão Kopschit: “O principal fator para o crescimento do PIB este ano vem do setor de serviços, porque a agropecuária deve apresentar uma pequena queda, ligada a problemas em algumas safras. A indústria, um pequeno crescimento. Serviços é o setor que demora mais a se recuperar da pandemia, porque são os que dependem mais da mobilidade. Então eles tinham mais espaço para crescer, mas, em vários  casos, já até ultrapassamos o nível anterior à pandemia. Esse consumo, justamente num primeiro momento, lá ainda em 2020, 2021, com a dificuldade de consumir serviços por causa da pandemia, ele migrou para bens, então, construção civil, bens de consumo duráveis cresceram antes e depois começou essa normalização porque hoje a maior parte do PIB é de serviços. Então o consumo das famílias voltou a crescer, dessa vez consumindo serviço, é basicamente isso. O Ipea já vinha com uma previsão para 2022  acima da média  do mercado, nas nossas previsões mostraram otimismo, era uma previsão de maior crescimento e ainda assim fomos surpreendidos com um crescimento ainda maior, então parte do crescimento dos 2022 é também pelo que já observamos.”

Brasil 61: Essa perspectiva de crescimento do PIB se mostra sustentável a médio e longo prazo?

EK: Para 2022, a nossa previsão hoje é de 2,8% de crescimento do PIB. Sendo que, hoje, a maioria dos analistas de departamentos econômicos de instituições financeiras estão em torno desse número também de 2,7%  ou 2,8%, alguns até 3%, mas é nessa vizinhança aí. Para 2023 deve haver um crescimento menor do que em 2022, o mercado tem apostado no crescimento, bem menor, de 0,5%. Nossa previsão é de 1,6%, primeiro porque a desaceleração virá, principalmente, por dois motivos: a economia mundial está se desacelerando, pode haver até uma recessão, mas independente de haver ou não uma recessão, que é um número negativo no crescimento do PIB,  a economia mundial vai crescer bem menos do que esse previsto, já é um fato. Primeiro, porque continuam os problemas na Europa, trazidos pela guerra [na Ucrânia], de dificuldades de fornecimento de energia por causa, principalmente, do corte de gás pela Rússia, segundo porque a inflação está muito alta nos Estados Unidos, na Europa, e no Reino Unido, estão da ordem de 8%, 9%, 10% que são números muito altos para esses países e não se via isso há muitas décadas. Então, de um lado, o Brasil vai ter um ambiente mundial bem menos favorável nesse fim de 2022 e durante o ano que vem.

Brasil 61: O setor agropecuário vem enfrentando um recuo neste ano. No entanto, a previsão do IPEA para o setor em 2023 é de um crescimento de 10,9%. O que está por trás dessa perspectiva de recuperação?

EK: Essa nossa previsão está baseada na previsão de safra da Conab, porque ainda não saiu a do IBGE, então está condicionado a essa previsão da Conab. O principal é um ganho na soja, que é o principal produto e também no milho. Em outros anos que esses produtos tiveram um aumento de produção, de PIB muito grande, que esses produtos específicos tiveram um aumento grande. O PIB da agropecuária também foi forte, então a gente está baseado nisso e também num cenário de normalidade do clima, porque a agricultura está sempre sujeita a intempéries, a secas, geadas que podem acontecer, mas no momento não tem nenhuma expectativa de fenômenos climáticos atípicos para ano que vem.
 
Brasil 61: Os setores que hoje estão puxando o aumento do PIB tendem a continuar sendo os principais setores no crescimento do indicador ou outros segmentos tendem a despontar nos próximos anos?

EK: “Para a gente ter um crescimento sustentado, de ter um arcabouço macroeconômico estável na parte fiscal, câmbio flutuante, a âncora da inflação, da meta de inflação, a gente deveria caminhar para mais alguma abertura comercial, prosseguir provavelmente em privatizações, tudo isso são medidas que aumentam a eficiência da economia em crescimento. Está muito ligado à eficiência e também se preocupar mais com a educação, porque depois que os países passam por fases de crescimento - devidos ao aumento de capital, migração da população do campo para a cidade - como já aconteceu no Brasil a décadas atrás, e aconteceu na China recentemente, vem acontecendo na Índia, o que proporciona o crescimento é o aumento de produtividade e isso costuma estar ligado à educação.  No Brasil aconteceu um fenômeno um pouco diferente, que nós conseguimos aumentar a escolaridade da população em alguns anos, mas não houve um correspondente aumento de produtividade como aconteceu em países que investiram na educação, como Chile e Coreia do Sul, por exemplo. Então acho que a educação tem que ser um grande tema assim como ciência, tecnologia, coisas que tragam aumento de produtividade.”

Confira a entrevista completa:

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