POTÁSSIO: Brasil pode ser potência mundial, mas sofre com dependência de importação

Segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), país tem reservas para garantir todo o minério usado na produção de fertilizantes consumidos por aqui até o ano de 2100 sem depender de importações

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O Brasil não só poderia ser autossuficiente na mineração do potássio, fertilizante essencial para a agricultura, como tem potencial para se tornar, inclusive, um dos maiores produtores mundiais. Segundo levantamento da Agência Nacional de Mineração (ANM), o potencial brasileiro em potássio seria de 2,9 bilhões de toneladas do minério. Todo o potássio produzido no Brasil é minerado em Sergipe, mas segundo o estudo, o país possui reservas significativas para garantir todo o minério usado na produção de fertilizantes consumidos por aqui até o ano de 2100 sem depender de importações. 

Sergipe fornece 3% do fertilizante consumido anualmente no Brasil (o local tem 463 milhões de toneladas em massa medida), outros estados podem ajudar a aumentar essa conta. Segundo mapeamento da ANM, em Minas Gerais há reservas estimadas em mais de 1,5 bilhão de toneladas de potássio; no Amazonas, 939 milhões de toneladas e em São Paulo, outras 38 milhões de toneladas. 

O Brasil produz, por ano, 550 mil toneladas de cloreto de potássio, mas a demanda é de 11 milhões de toneladas do minério, o que torna o país dependente de importações. Grande parte vem da Bielorrússia e Rússia, além do Canadá. A guerra entre russos e ucranianos disparou a crise dos fertilizantes, abrindo espaço para a alta de preços e falta dos insumos, que representam cerca de 30% dos custos de uma cultura. E como esse aumento é repassado para os alimentos, o receio é de uma crise econômica maior nos próximos meses, além de uma ameaça à segurança alimentar do país.  

Problema de reserva de potássio não está ligado diretamente à mineração em terras indígenas

FERTILIZANTES: Quais são os caminhos para reduzir dependência

Segundo Márcio Remédio, diretor de Geologia e Recursos Minerais do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), vinculado ao Ministério de Minas e Energia, a iniciativa mais próxima de atender parte da demanda brasileira é o Projeto Potássio Autazes, da empresa Potássio do Brasil LTDA, um empreendimento do banco Forbes & Manhattan (Canadá). 

Segundo o CPRM, o projeto de mineração de potássio em Autazes (AM), entre os rios Madeira e Amazonas, tem a capacidade de atender, pelo menos, 24% da demanda brasileira a partir de 2025. A empresa chegou a iniciar os procedimentos de consulta ao povo Mura, nas redondezas das áreas de extração, mas ele foi interrompido pela pandemia da Covid-19. O Ministério Público Federal também interrompeu qualquer avanço, já que a operação ocorreria entre 3 e 7 quilômetros de distância da terra indígena.

Márcio Remédio acredita que a melhor governança do potássio brasileiro não apenas vai suprir a necessidade interna, como também transformar o país em protagonista, já que abre portas para fornecer o fertilizante a outros países da América do Sul. “Nós vamos ser, sim, um player do mercado. Nós temos condição de suprir a nossa demanda, mesmo com o crescimento da demanda. No cenário mais otimista, nós chegamos a ser exportadores”, destaca o diretor da CPRM.

Mineração na Amazônia

A reserva de potássio na Amazônia abriu o debate sobre a necessidade de se minerar em terras indígenas. Mas esse montante, que representa um terço de todo nosso potencial de potássio, não está sob solo protegido. Estudo realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) revela que apenas 11% do minério encontrado na Amazônia Legal está em terras indígenas que ainda não foram homologadas.

Luis Azevedo, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa Mineral e Mineração (ABPM) explica que o potencial de mineração de potássio no Brasil é enorme e uma questão estratégica para o país, principalmente a reserva da Amazônia, que não se encontra em terras indígenas.

“Esse local é uma fonte que talvez o Brasil não possa abrir mão de explorar. Também é fato que esses locais não estão dentro das reservas indígenas. Pode ser que reservas indígenas contenham potássio, mas esses locais que nós estamos falando estão no entorno das terras indígenas. Numa resolução Conama, a gente criou as tais zonas de amortecimento. E essas zonas, para que elas sejam pesquisadas, exploradas, elas dependem das unidades gestoras, as unidades de conservação, que no caso são as reservas indígenas. O que a gente precisa é ouvir essas comunidades. Não é uma questão de minerar ou não minerar em terra indígena”, destaca Azevedo. 

“Agora, nesse momento muito importante, a gente está discutindo a nossa segurança alimentar. E para o nosso país tem um papel especial, porque pode ser a alavanca de volta da inflação, que vai fazer toda a nossa população sofrer. Essa questão da discussão do potássio na Amazônia é maior, a gente tem que colocar isso com uma lente muito maior”, explica.

Márcio Remédio, diretor de Geologia e Recursos Minerais do CPRM, explica que a reserva na Amazônia é uma grande estrutura, semelhante àquela que existe nos Urais, na Rússia e na Bielorrússia, e também no Canadá, três dos grandes produtores mundiais do mineral. “É o mesmo modelo, mesmo tamanho, mesma idade, então, é o mesmo potencial. A mesma profundidade também, cerca de 800 metros a mil metros de profundidade. Nós vislumbramos, entendemos que essa será a fonte de potássio solúvel para o Brasil. O potássio do Amazonas. A solução para esse déficit, a médio prazo, é o Amazonas”, ressalta o diretor do CPRM.
 

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